O PANORAMA VISTO DA SERRA

terça-feira, 18 de novembro de 2014

BRASIL GRANDE - É POSSIVEL QUE OS CEGOS VEJAM!

Jamais esquecerei dos tempos em que ainda na pré-adolescência costumava admirar e achar daquilo das populações e das cidades dos países desenvolvidos.
Achava tudo sensacional, aquelas cidades e países possuírem populações maiores que o Brasil mesmo tendo às vezes  territórios muito menores que os nossos. Costumava ver com certo sentimento de inferioridade em relação àqueles que tinham além de imensas populações, desenvolvidas, educadas e com poder aquisitivo bem superiores ao nosso.
Falava-se muito que o Brasil teria que ser povoado. Um País com um território tão extenso e uma população tão pequena...!!!
Isso não era admitido naqueles tempos difíceis, em que apesar dos pesares ganhávamos copas, éramos campeões em outras modalidades de esporte, nossa música passava a ser conhecida em todo o mundo!
Mas aquelas cidades cheias de carros e seus altos edifícios nunca saíam do meu cotidiano de complexo de inferioridade: ainda seremos campeões nisso, ainda engarrafaremos as ruas com nossos automóveis!
Enquanto isso, na surdina, esses países procuravam corrigir como defeitos o que viam as minhas imaginações como virtudes. E eu nem me tocava com isto. Afinal, era apenas um menino e quem deveria se preocupar estava era querendo exacerbar nas demagogias da politica e da economia num país subdesenvolvido.
E ao lado disso, dizia-se, e como dizia-se, dos latifúndios, das grandes áreas nas mãos de poucos!
Era preciso uma reforma agrária. Não era possível que países com áreas tão pequenas, bem restritas, pudessem assim se desenvolver, e nós não!
"Temos que conseguir alcançar aqueles índices nem que seja à custa de um desenvolvimento às avessas"!
Vamos providenciar com que haja um adensamento cada vez maior, não promovemos infraestrutura e incentivamos ou deixamos ao seu livre arbítrio o crescimento demográfico, pois o Brasil é grande!
Continuava a ouvir sempre que o Brasil é grande e tem que ser povoado para que outras nações não venham tomá-lo, invadi-lo. Essa era a política que permeou até o regime militar. Tinha até o "integrar para não entregar". Que maravilha!
Hoje, estamos vendo, estamos tendo a perfeita noção de que a população mundial deverá ter um limite, senão...
E não pouparam esforços, governo após governo. Fui acostumado a ver em quão exíguos espaços eram confinados os pobres nas chamadas habitações populares, cada vez menores, menores - ainda que fôssemos o Japão, nem assim isso se sustentaria.
Era um absurdo, não só o tamanho das construções, mas muito pior, pela estrutura fundiária, que só muito tempo depois pude compreender que isso se dava em virtude da malquerência do estado em investir em infraestrutura básica (vias, saneamento básico, etc.). Depois, como se não bastasse chegaram as demais, causadas principalmente pela ausência das primeiras: caos na mobilidade (ausência do transporte de massa e modais de transporte), estradas em geral, segurança.
(O caminhão de entrega de bebidas não passa na maioria das ruas, mas ela está presente em todos os locais! )
Enquanto isso não acontecia, acontecia outra coisa que era o sucateamento do sistema ferroviário. Foram longe demais!
Comecei, a partir daí a achar que estávamos realmente praticando um suicídio.
Mesmo com exemplos naqueles países, e que já remontavam ao século XIX (ex:Metrô de Londres) -  mas pelo menos nos anos 60 todos eles viram que tudo aquilo levaria a um caos que seria difícil de reverter e então começou-se a guerra contra o crescimento das cidades e de suas populações (EE.UU., Europa em geral).
Pensam que o Brasil se importou? "Agora nós vamos ficar grandes, vamos deixar nosso complexo de vira-latas!" (vide um analfabeto que todos passaram a chamar de doutor) - e tocamos a continuar com o mesmo paradigma de sempre.
Meu grande sonho, apesar de naqueles tempos não compreender muito dessas coisas, é que os pobres devem possuir grandes espaços, os terrenos terão que ser grandes, mesmo que em cima destes esteja um barraco de taboas. E as ruas bem largas e arborizadas!  A criatividade do brasileiro resolve o resto.
Mas como explicar isso a um país que distribui lotes na reforma agrária de 15 ha. em pleno semiárido nordestino em cuja região uma família não consegue sobreviver condignamente com 200 ha?
Nem o exemplo da Austrália com um grande território e uma pequena população nos demoveu desse processo de autodestruição - "temos que ficar igual a eles lá nos anos 60, mesmo que hoje eles não queiram mais ser daquele jeito"! - caso a tivéssemos imitado, hoje seriámos um País rico sem preocupações com os problemas climáticos próprios de países tropicais (secas que além de historicamente assolarem o nordeste, agora passam a atingir outras regiões).
Falta-nos a geleiras do hemisfério norte, somos dependentes de massas florestais que nos regulam o clima - é outra história longa!
Nos perdemos no tempo e espaço. Tudo o que deveríamos fazer foi justamente o que não fizemos.
Se eu pudesse vislumbrar isso, lá da minha ignorância do passado, como me orgulharia de ver nossas cidades entre as mais populosas do mundo e com a segunda maior frota de automóveis do planeta! Ah, se eu soubesse que o Brasil iria ficar tão "grande"!

j.a.mellow

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