O PANORAMA VISTO DA SERRA

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

RESPOSTA A STEDILE

Desmistificando completamente a tese dos que conduzem o movimento em favor de uma reforma agrária nos termos que só a eles importam como é o caso do MST comandado por João Pedro Stedile está um artigo publicado no Estado de São Paulo por Xico Graziano, um grande conhecedor dessa matéria e junto um comentário que fiz ao artigo do  próprio  comandante desse movimento revolucionário e publicado recentemente na Carta Capital, uma revista de claro viés esquerdista, em que ele torna a voltar com aquelas mesmas antigas cantarolagens da simples distribuição de terras e da sua posição contrária ao Agronegócio, que só mesmo para enganar ainda a uma meia dúzia de pessoas sem nenhum conhecimento ou interessadas em outro negócio contanto que não seja a própria reforma agrária tão decantada!

João Pedro Stedile como sempre, propõe também como pode se ver abaixo uma total mudanças de paradigma. Vejam que, de uma coisa que está dando certo para uma aventura que só na cabeça dele!

João Pedro Stedile disse entre outras coisas:

Há na sociedade brasileira uma estrutura de propriedade da terra, de produção e de renda no meio rural hegemonizada do modelo do agronegócio que está criando problemas estruturais gravíssimos para o futuro. Vejamos: 85% de todas as melhores terras do Brasil são utilizadas apenas para soja/milho, pasto e cana-de-açúcar.
Apenas 10% dos fazendeiros que possuem áreas acima de 200 hectares controlam 85% de todo o valor da produção agropecuária, destinando-a, sem nenhum valor agregado, para a exportação. O agronegócio reprimarizou a economia brasileira. 

A matriz produtiva imposta pelo modelo do agronegócio é socialmente injusta, pois ela desemprega cada vez mais pessoas a cada ano, substituindo-as pelas máquinas e venenos. Ela é economicamente inviável, pois depende da importação, anotem, todos os anos, de 23 milhões de toneladas de fertilizantes químicos que vêm da China, Uzbequistão, Ucrânia etc. Está totalmente dependente do capital financeiro que precisa todo ano repassar: 120 bilhões de reais para que possa plantar. E subordinada aos grupos estrangeiros que controlam as sementes, os insumos agrícolas, os preços, o mercado e ficam com a maior parte do lucro da produção agrícola.

 No atual estágio do capitalismo, reforma agrária é a construção de um novo modelo de produção na agricultura brasileira. Que comece pela necessária democratização da propriedade da terra e que reorganize a produção agrícola em outros parâmetros.
O governo precisa colocar muito mais recursos em pesquisa agropecuária para alimentos e não apenas servir às multinacionais, como a Embrapa está fazendo, em que apenas 10% dos recursos de pesquisa são para alimentos da agricultura familiar. Criar um grande programa de investimento em tecnologias alternativas, de mecanização agrícola para pequenas unidades e de pequenas agroindústrias no Ministério de Ciência e Tecnologia. Criar um grande programa de implantação de pequenas e médias agroindústrias na forma de cooperativas, para que os pequenos agricultores, em todas as comunidades e municípios do Brasil, possam ter suas agroindústrias, agregando valor e criando mercado aos produtos locais.

Há cerca de 150 mil famílias de trabalhadores sem-terra vivendo debaixo de lonas pretas, acampadas, lutando pelo direito que está na Constituição de ter terra para trabalhar. Para esse problema, o governo precisa fazer um verdadeiro mutirão entre os diversos organismos e assentar as famílias nas terras que existem, em abundância, em todo o País. 

 

Comentei:

Sr. Stedile.
Concordo até com a idéia de que haverá possibilidade de se manter um sistema produtivo a partir do pequeno produtor, mas no estágio de evolução que nos encontramos não poderemos nos desatrelar da estrutura atual do agronegócio em função de economia de escala, logistica nacional e industrialização, senão ficariamos produzindo e consumindo regionalmente o que seria um retrocesso e impossivel de ser viabilizado.
Isso tudo teria que obedecer a um sistema integrado entre cooperados cooperativas e a ponta, que poderia ser como já o são os grandes entrepostos ou a industrialização.
Senão nunca teremos agricultura no mundo real, de um mundo desenvolvido ainda mais quando somos um País de dimensões continentais.
Quando o Sr. Stedile vai contra o Agronegócio ele está praticamente indo contra a única coisa genuinamente brasileira que deu certo nos últimos 40 anos, e dentro de um contexto desse não poderemos acreditar em sua palavra. Se consultarmos a maioria das pessoas que habitam as cidades brasileiras, estas também não irão acreditar nisso, principalmente quando assistimos reiteradas invasões do MST em terras que sabemos perfeitamente não serem próprias para assentamentos, pelo simples fato de estarem próximas a povoações e pequenas cidades, pela facilidade de conseguirem integrantes que bem ou mal todos moram como os demais em nossas já por demais conhecidas sub-habitações urbanas.
No entanto, concordo com o Senhor quando diz que há grandes possibilidades em áreas semelhantes às quais hoje são utilizadas pelo Agronegócio, localizadas principalmente nas grandes regiões dos cerrados que por terem boa aceitabilidade à agricultura por isso mesmo foram viabilizadas e continuam ainda a dar bons frutos. Aí sim, poderiam ser desenvolvidos grandes projetos em que perfeitamente estaria integrado a figura do produtor indivídual. 
                                                                                                                                         j.a.mellow

E agora vejam o que vem como resposta daquele que realmente entende de Agricultura no País, é Agronomo, professor da UNESP,  ocupou vários cargos e inclusive foi Presidente do INCRA:

 

FEIJÃO CAPITALISTA

Boa parcela da opinião pública acredita que a comida do povo vem do agricultor familiar, enquanto o agronegócio capitalista serve ao comércio exterior. Ledo engano. O equívoco nasce de uma ideia antiga, superada. Hoje manda a integração produtiva no campo.

A começar do ciclo açucareiro colonial, no Nordeste, a historiografia consagrou distintas funções, e certa oposição, entre a grande propriedade rural, dominante, e a agricultura de subsistência, que vivia em suas beiradas.


Existia, realmente, um dualismo. Escritores famosos, como Caio Prado Jr., sempre descreveram a grande lavoura - o latifúndio ou a plantation - como aquela destinada à exportação, de açúcar, cacau ou borracha. Produzir alimento básico era coisa de pobre.
Quando chegou o ciclo da mineração, no século 18, o deslocamento da população - a maioria escrava - rumo ao Sudeste, exigiu fortalecer a produção de alimentos.


Desde os pampas gaúchos, dedicado à pecuária e ao seu valioso charque de carne, por todo o Centro-Sul surgiram novos agricultores, animados por atenderem o consumo interno criado nas atividades auríferas das Minas Gerais.

Mais tarde, na economia cafeeira de São Paulo, já livre da escravidão, o colonato favoreceu o cultivo de gêneros alimentícios, seja entre as ruas do cafezal novo, seja em áreas destacadas da fazenda.


Caminhava a economia livre. Mas a crescente demanda nas cidades brasileiras trouxe à tona a questão do abastecimento urbano.

Em 1901, relatava Alberto Passos Guimarães - A Crise Agrária, 1978 -, quase 43% das importações brasileiras, em valor, representavam produtos básicos, incluindo feijão, fava, milho, arroz, banha e manteiga. Com escassez os preços elevaram-se, estimulando os pequenos agricultores. Plantar comida passava a oferecer lucro.

A partir da grande crise mundial, dos anos 1930, a diversificação da economia brasileira, na cidade e no campo, aprofundou-se. Décadas depois, com o forte êxodo rural alargando as metrópoles, a necessidade do abastecimento nas periferias transformou definitivamente a agricultura de subsistência em próspero negócio.


Além do tradicional arroz com feijão, os moradores do asfalto exigiam ovos, carnes, verduras e legumes, frutas, leite; aos roceiros bastava produzir e vender. Daí surgiram os Ceasas, sacolões, varejões e, claro, os supermercados. Mudou a distribuição no varejo dos alimentos.

Mudou também, e muito, o caráter da produção rural. Ela ganhou escala e tecnologia, cresceu em produtividade, integrou-se às agroindústrias, aprendeu a comercializar, buscou financiamento.


O raciocínio guarda lógica: as cidades brasileiras jamais teriam sido abastecidas - e bem ou mal o foram - sem uma grande transformação ocorrida no campo. Que prossegue acelerada.

Nesse processo histórico, as análises dualistas sobre a agricultura perderam razão. Sim, existem ainda os tradicionais agricultores de subsistência, a maioria empobrecida no semiárido nordestino.


Enfraqueceu-se, porém, com a modernização agrária a antiga oposição entre a grande e a pequena produção. Ambas, com tecnologia, passaram a ser regidas pela lucratividade do mercado, seja interno, seja externo.

Assim, tornaram-se complementares, e muitas vezes se confundiram. Vejam alguns exemplos.

Típica da velha família rural, a banha de porco acabou substituída na cozinha pelos óleos vegetais. O mais barato, de consumo popular, origina-se do esmagamento do grão da soja. Pois bem, no Paraná e no Rio Grande do Sul, grandes plantadores da oleaginosa, 90% da produção advém de agricultores familiares, ligados às grandes cooperativas exportadoras.


Ou seja, a mesma agricultura que gera divisas garante a fritura na mesa. Sem distinção.

No café, a maior parte da safra brota das lavouras mineiras, grandemente ligadas às cooperativas. A Cooxupé, a maior delas, aglutina 12 mil cafeicultores, sendo 80% pequenos produtores rurais. Do embarque total de grãos nos pátios da cooperativa (2011), perto de 15% se destinou às torrefadoras do mercado interno; a grande parte seguiu exportada. Pequenos, juntos, ficam grandes.


Em cada ramo da agropecuária nacional se pode verificar essa junção entre o agronegócio capitalista e a produção familiar, sendo difícil separar, no destino, o mercado interno do externo. Na cultura da cana, em que preponderam os grandes usineiros, cerca de 70% do açúcar se exporta, mas o etanol, que enche o tanque dos veículos, dos pobres principalmente, fica aqui dentro.


Quem produz frango, o agricultor familiar ou o agronegócio? Resposta fácil: ambos. As empresas frigoríficas representam grandes negócios, privados ou cooperativados; já os avicultores, a elas integrados, são familiares.


E o feijão? A maioria da produção, é verdade, advém de pequenos produtores. Estes, entretanto, não se configuram mais como de subsistência, vendendo apenas o excedente. Que nada. Espelham agricultores altamente tecnificados.


Nos Estados Unidos, sabe-se, a mecanização da agricultura provocou, ao mesmo tempo, o aumento da escala de produção e o fortalecimento da gestão familiar, preponderante por lá. Tal processo se caracteriza, por aqui, especialmente em Mato Grosso, onde enormes fazendas produzem soja e milho, nas lavouras tocadas pelos próprios produtores e seus filhos. Negócios gigantes, familiares.


Essas histórias mostram que ser familiar não necessariamente significa ser pequeno. E comprovam que pequeno agricultor pode, perfeitamente, participar do agronegócio, quer contribuindo para a exportação, quer alimentando o povo.


Pode acreditar: inexiste oposição entre agricultura familiar e agronegócio. O feijão virou capitalista.

22 de janeiro de 2013
Xico Graziano, O Estado de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário