Audaciosas e hilariantes aventuras desse fabuloso personagem que beira o inverossímil
Já leu o
best-seller “Inferno”, de Dan Brown ? Não leia, não perca seu tempo com
essa longa e entediante palestra sobre pintores renascentistas e igrejas
de Florença e Veneza, misturada com versos do “Inferno”, de Dante
Alighieri, como pano de fundo para uma gincana de um professor americano
de Simbologia, e uma linda jovem com um QI fabuloso, para tentar
impedir a ativação de um vírus criado por um cientista louco para matar
um terço da humanidade, acreditando que assim a salvaria do inevitável
extermínio provocado pela superpopulação da Terra.
O grande mistério da história é: por que o genial cientista que criou o vírus, que eles imaginam ser um 2.0 da peste negra medieval, não se contenta com a sua nobre missão de salvar a raça humana, mas faz questão de se suicidar e deixar um emaranhado de pistas, dicas e charadas em quadros, livros e estátuas para encaminhar os heróis eruditos para o local secreto onde o vírus será ativado na data fatal? Ora, para Dan Brown escrever essa baboseira e ganhar milhões de dólares.
Já leu o best-seller “Dirceu”, de Otávio Cabral ? Corra para ler, você não vai conseguir parar. Não só pelas audaciosas e hilariantes aventuras desse fabuloso personagem que beira o inverossímil e faria a alegria de qualquer ficcionista, mas pela rica narrativa de sua relação de amor e ódio com Lula, que por si só mereceria um livro, e de suas brigas e traições com Palocci, Tarso Genro, Mercadante, Marta e outros grã-petistas.
São várias as vidas de Dirceu, de líder estudantil preso pela ditadura e exilado em Cuba a comandante de focos de guerrilha aniquilados pelo Exército antes de começarem, do falso comerciante Pedro Carôço no interior do Paraná a presidente do PT que chega ao poder com Lula em 2002, de chefe da quadrilha do Mensalão a homem de negócios milionário. De herói a vilão, do céu ao inferno, são muitos os inimigos que enfrentou e as mulheres que conquistou, amou, traiu e enganou. Que filme !
Se fosse traduzido para o inglês e apresentado como um romance, “O inferno de Dirceu” seria muito melhor e faria mais sucesso que o de Dan Brown.
02 de agosto de 2013
Nelson Motta, O Globo
NOTA AO PÉ DO TEXTO
O que beira o inverossímil é o país chamado Brasil, onde um aventureiro se aproveita de todas as ondas para surfar na conquista do poder e da fortuna, e paira sorrindo para as câmeras certo de que nada lhe acontecerá...
Não foi verdadeiramente nenhum dos seus personagens, senão apenas um simulacro. Traiçoeiro, guerrilheiro de espingarda de rolha, é fruto de um dos momentos mais corruptos e confusos desta República, que lhe permitiu acumular riqueza, que em qualquer país sério, já lhe teria rendido bons anos de prisão. Guliver em Liliput, enganou, mentiu e soube ser hábil, exibindo uma estatura maior do que a que de fato lhe cabia, mas foi medido pela sombra que projetou.
Pedro Caroço, alcunha que melhor o define, escapou e continua fugindo por artimanhas, não por inteligência, das malhas de uma justiça em que o advogado tem mil recursos para inocentar o pior dos serial killer, ou pelo menos adiar para as calendas a sentença final.
Caroço...
m.americo
O grande mistério da história é: por que o genial cientista que criou o vírus, que eles imaginam ser um 2.0 da peste negra medieval, não se contenta com a sua nobre missão de salvar a raça humana, mas faz questão de se suicidar e deixar um emaranhado de pistas, dicas e charadas em quadros, livros e estátuas para encaminhar os heróis eruditos para o local secreto onde o vírus será ativado na data fatal? Ora, para Dan Brown escrever essa baboseira e ganhar milhões de dólares.
Já leu o best-seller “Dirceu”, de Otávio Cabral ? Corra para ler, você não vai conseguir parar. Não só pelas audaciosas e hilariantes aventuras desse fabuloso personagem que beira o inverossímil e faria a alegria de qualquer ficcionista, mas pela rica narrativa de sua relação de amor e ódio com Lula, que por si só mereceria um livro, e de suas brigas e traições com Palocci, Tarso Genro, Mercadante, Marta e outros grã-petistas.
São várias as vidas de Dirceu, de líder estudantil preso pela ditadura e exilado em Cuba a comandante de focos de guerrilha aniquilados pelo Exército antes de começarem, do falso comerciante Pedro Carôço no interior do Paraná a presidente do PT que chega ao poder com Lula em 2002, de chefe da quadrilha do Mensalão a homem de negócios milionário. De herói a vilão, do céu ao inferno, são muitos os inimigos que enfrentou e as mulheres que conquistou, amou, traiu e enganou. Que filme !
Se fosse traduzido para o inglês e apresentado como um romance, “O inferno de Dirceu” seria muito melhor e faria mais sucesso que o de Dan Brown.
02 de agosto de 2013
Nelson Motta, O Globo
NOTA AO PÉ DO TEXTO
O que beira o inverossímil é o país chamado Brasil, onde um aventureiro se aproveita de todas as ondas para surfar na conquista do poder e da fortuna, e paira sorrindo para as câmeras certo de que nada lhe acontecerá...
Não foi verdadeiramente nenhum dos seus personagens, senão apenas um simulacro. Traiçoeiro, guerrilheiro de espingarda de rolha, é fruto de um dos momentos mais corruptos e confusos desta República, que lhe permitiu acumular riqueza, que em qualquer país sério, já lhe teria rendido bons anos de prisão. Guliver em Liliput, enganou, mentiu e soube ser hábil, exibindo uma estatura maior do que a que de fato lhe cabia, mas foi medido pela sombra que projetou.
Pedro Caroço, alcunha que melhor o define, escapou e continua fugindo por artimanhas, não por inteligência, das malhas de uma justiça em que o advogado tem mil recursos para inocentar o pior dos serial killer, ou pelo menos adiar para as calendas a sentença final.
Caroço...
m.americo
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