Quando criança ouvia falar que pessoas faziam contratos "comerciais" realizados entre homem e mulher, talvez com o intuito de estabelecer deveres de um para com outro. Não sei nem se tinha validade. Depois ficou tudo igual com a equiparação de direitos e deveres civis adquiridos.
É claro que isso foi proposital, só com o intuito de fustigar tanto a Igreja, nos seus dogmas quanto o Estado que também sempre teve a instituição do casamento como um arcabouço jurídico de proteção à familia e não proteção nem a amor nem a sexo, que ninguém aqui nunca terá esse poder! E este Padre não fazia outra coisa, senão usar de dois pesos, duas medidas!
Porque são capazes de correr atrás de PEC as mais absurdas e não podem apenas fazer uma alteração no código civil e criar um contrato especifico para isto?
O Reinaldo Azevedo dá uma aula aproveitando-se do agora ocorrido com o excomungado Padre Beto. Leiam abaixo:
Ainda Beto, o ex-padre e ex-católico – Ianomâmis praticam infanticídio, e isso parece aceitável para os politicamente corretos, mas eles acham um absurdo que a Igreja tenha seus valores. Ou: Onde estão mesmo os intolerantes?
Qual
é a relação que existe entre o ex-católico e ex-padre Beto e as
práticas cruéis de tribos indígenas? Já chego lá. Mas, primeiro, vamos
passear um pouco.
Beto, aquele ex-padre de Bauru, também ex-católico, já que excomungado, está exercendo a sua verdadeira vocação, que como já identifiquei aqui:
“Nasceu para brilhar. Nasceu para o palco, o picadeiro, o palanque, sei
lá eu”. Ao comentar nesta terça a excomunhão, exagerando a própria
importância, como parece ser o hábito do mau hábito, afirmou: “Eu
me sinto honrado em pertencer à lista de muitas pessoas humanas que
foram assassinadas e queimadas vivas por pensarem e buscarem o
conhecimento. Agradeço à Diocese de Bauru”.
Ulalá!
Beto é o Giordano Bruno do casamento aberto! Tempos inglórios aqueles,
estes, em que um tipo como esse rapaz ganha destaque e é tratado como um
pensador. Mas notem: está feliz. Já pode escrever livros, fazer
programa de televisão, virar consultor sentimental, viver, na prática, a
vida que acha justa em teoria. Se não estiver no Fantástico no domingo,
corto os dois mindinhos e começo a falar com a língua mais presa do que
o Lula. A Igreja também se livra, quando menos, de alguém, fica claro
agora, que a detesta. Os que admiram as ideias de Beto continuarão a
receber o pão espiritual, já que ele é assíduo das redes sociais e,
segundo li na Folha, das cervejarias. O único que está apanhando mesmo é
o jornalismo — na pena de alguns jornalistas e na editorialização do
noticiário.
Este
senhor não está sendo chamado pelo nome ou apelido. Virou “o padre que
defende os homossexuais”. É uma batatada! É uma bobagem! É uma mentira!
Se ele, até agora, efetivamente, fez alguma coisa em favor de
homossexuais, se desconhece. A Igreja não o está excomungando porque,
sei lá, ele declarou que todos são filhos de Deus, independentemente de
sua sexualidade. Padres mundo afora declaram isso todos os dias. Nada
disso! Foi excomungado porque recusa a concepção de família da
instituição a que ele pertence e porque declarou o seu direito de
questionar, mesmo pertencendo à hierarquia católica, qualquer dos dogmas
em que se fundamenta a religião. Como já deixei claro aqui, até grupos
de amigos têm códigos de conduta; até aquela turminha que se reúne para
tomar chope nos botecos eventualmente frequentados por Beto quando era
padre e católico estabelece limites. Os que destoam muito do aceitável
são excluídos.
Escrevi
num dos posts que a Igreja “não é um clube de livres-pensadores”, e
alguns idiotas estrilaram. Ora, não é mesmo! A rigor, não existem clubes
de livres-pensadores porque, se livres, já não podem formar um clube. A
Igreja é uma reunião de pessoas em torno de uma doutrina. Por isso está
aí há dois mil anos. Um jornal é uma reunião de pessoas em torno de uma
linha editorial. Lá no jornal da CUT, por exemplo, não é permitido
falar mal da CUT. Nos blogs sujos financiados por estatais, não é
permitido falar bem da imprensa independente, que se financia no
mercado. Na imprensa independente, que se financia no mercado, não é
permitido defender a censura — ainda bem, né?, embora, convenhamos, não é
raro aparecer alguém com ideias exóticas. NOTA À MARGEM — “Ah,
então toda essa gente se iguala na defesa de pontos de vista
particularistas, e a universalidade não está em nenhum lugar?” Nada
disso! A imprensa que repudia a censura é moralmente superior à
escumalha que a defende (com financiamento estatal) porque, num caso,
busca-se vencer o adversário pela argumentação; no outro, pelo silêncio.
À imprensa livre só é lícito interditar o pensamento que defende o fim
da própria liberdade, e seu horizonte é a pluralidade. Já os que estão a
serviço de um partido ou de um projeto de poder sabem que seu inimigo
principal é a liberdade. Mas me desviei um tantinho. Volto ao ponto.
O tal Beto
chega a ser folclórico, e é espantoso que mobilize a imprensa e atraia,
é evidente, a simpatia de jornalistas. É um sintoma de rebaixamento
intelectual. Que diabo andam ensinando nas faculdades por aí? Ora, o que
conferia legitimidade e peso ao discurso de Beto? O fato de ele ser
padre. O “ser padre” supõe a adesão a) a uma doutrina; b) a um conjunto de valores; c) a uma disciplina; d) a um comando; e)
a textos de referência. Observem que é perfeitamente possível ser feliz
e pensar sem ter de se subordinar a nada disso. Supõe-se que aquele que
escolheu essas subordinações o fez em razão do “item f”: A FÉ.
Aí, então,
se procede à pergunta óbvia: como é possível que alguém, cujo discurso é
legitimado por essa cadeia de submissões ancoradas num princípio de fé,
busque uma outra legitimidade que nasceria da denegação do que lhe
confere identidade? De sorte que, no caso em espécie, Beto era, então, o
“padre” que não aceita as regras da Igreja, o padre que não aceita a
hierarquia, o padre que não aceita os dogmas? É como se um jornalista
buscasse legitimar o seu trabalho por intermédio da negação de alguns
dos fundamentos que definem a própria profissão. E olhem que a ética
profissional lida com conceitos um pouco mais fluidos e elásticos do que
a doutrina de uma religião.
Agora Beto e os índios
Não faz muito tempo, houve no Brasil um enfrentamento entre antropólogos e religiosos (se não me engano, batistas, a conferir) por causa de uma tribo ianomâmi. Esses índios telúricos, que tanto encantam o rei da Noruega, matam as crianças deficientes. Uma das práticas é enterrá-las vivas. Missionários batistas, diante do horror, houveram por bem salvar uma criança. Estabeleceu-se, então, um confronto de valores. E aí? Certa antropologia argumenta que, ora vejam, aquilo que nos parece cruel corresponde aos valores daquela cultura. Assim, a preservação daquela forma particular de civilização supõe a existência do infanticídio. Não, não é o que eu penso, mas não vou abrir aqui uma polêmica nova. Fica para outra hora.
Não faz muito tempo, houve no Brasil um enfrentamento entre antropólogos e religiosos (se não me engano, batistas, a conferir) por causa de uma tribo ianomâmi. Esses índios telúricos, que tanto encantam o rei da Noruega, matam as crianças deficientes. Uma das práticas é enterrá-las vivas. Missionários batistas, diante do horror, houveram por bem salvar uma criança. Estabeleceu-se, então, um confronto de valores. E aí? Certa antropologia argumenta que, ora vejam, aquilo que nos parece cruel corresponde aos valores daquela cultura. Assim, a preservação daquela forma particular de civilização supõe a existência do infanticídio. Não, não é o que eu penso, mas não vou abrir aqui uma polêmica nova. Fica para outra hora.
Da mesma
sorte, o pensamento politicamente correto já produziu milhares de textos
sobre o suposto preconceito dos cristãos contra os islâmicos, que
seriam vistos com olhos negativos no Ocidente porque, no fundo,
insistiríamos em ver a sua fé segundo a nossa própria ótica. Isso
revelaria uma incapacidade de ver o outro… Sempre que me deparo com
coisas assim, a minha primeira resposta é esta: “Acho bom esse choque de
valores; só é uma pena que não possamos levar os nossos para os países
islâmicos porque, não raro, resultaria em pena de morte…”. Mas esse
também é outro debate, para outra hora.
Lembro
esses dois casos porque acho notável a facilidade com que o pensamento
politicamente correto pode defender até o infanticídio ou a eliminação
de deficientes físicos, quando é o caso de falar em nome da “preservação
de uma cultura”, ou nos convida a olhar sem preconceitos o islamismo —
e, por exemplo, a evidente discriminação da mulher (dos homossexuais,
então…) —, mas acha inconcebível que a Igreja Católica defenda seus
próprios valores não por meio da eliminação física (é evidente!) do
elemento indesejado, não por meio da imposição de valores e costumes a
quem, se pudesse, escolheria outro caminho. Nada disso! A Igreja
Católica defende o seu credo falando àqueles que a ele aderiram por
livre e espontânea vontade, no exercício da plena liberdade, na
expressão mais pura do livre-arbítrio.
À
diferença do que parece, os que estão atacando a Igreja Católica em
razão desse episódio é que não suportam a diferença — ao menos esta
diferença em particular: a dos valores católicos. Podem achar
justificável o assassinato de criancinhas; podem achar justificável a
imposição do véu; podem achar justificável qualquer “orientalismo” (como
diria Fernando Pessoa) em nome da afirmação da identidade. Só não podem
aceitar que católicos, em suma, se afirmem como… católicos, ou, não é
menos verdadeiro, evangélicos como evangélicos.
A verdade
está no oposto. Intolerante é Beto, que havia dado um ultimato (!?) à
Igreja: ou ela mudava, ou ele não voltaria!!! Intolerantes são aqueles
que acham absurdo que a Igreja Católica tenha os seus valores num mundo
em que se é católico por opção. Noto, para encerrar, que nascer
deficiente numa tribo ianomâmi não é uma escolha. Não ignoro que a
valorização do poder de escolha também é expressão de uma cultura. É a
minha. E eu a considero superior a todas as outras.
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