Talvez ele tenha sido demais duro ao atacar justo numa hora dessas, e ele sempre faz isso, em que estamos todos movidos por um ufanismo de plantão, que sempre dura muito pouco e vai embora (vide mensalão), e mais atrás no tempo, no que deu o cara pintada Lindenberg Farias.
Por isso não posso deixar de compartilhar com ele a opinião de que o que estamos vendo ser defendido é também uma participação maior do Estado na vida do cidadão, "protegendo-o", não tendo nessa pauta nada que nos faça pensar que estaríamos indo atrás de mais democracia e de mais liberdades individuais.
Movimento Passe Livre, chamado de pacífico por certa imprensa, se nega a condenar saqueadores e diz que eles são protagonistas de uma “revolta popular”. E ainda há gente que me pede para aplaudir essa gente! Não há a menor chance de isso acontecer!
Está
página teve quase 300 mil visitas ontem (294.820, novo recorde), e nem
todo mundo veio aqui para elogiar as minhas prosopopeias. Há um grupo
que chega quase a estar magoado comigo. Eu não estaria percebendo que o
movimento que está nas ruas é, antes de mais nada, crítico ao petismo, e
então eles se mostram espantados que não conte com o meu apoio e com o
meu entusiasmo. Então eu não estaria vendo que os jovens também
protestam contra corrupção? Então eu não estaria vendo que eles são
críticos à Copa? Então eu não estaria vendo que eles desconfiam dos
políticos e dos partidos, exigindo que alguns esquerdistas enrolem as
suas bandeiras, numa “censura à classe política que está aí”? Sim, eu
estou vendo tudo isso. Como meu único compromisso com os leitores e com o
site da VEJA é escrever o que penso, então escrevo o que penso. É
simples assim.
Há um
engano central em relação a esse movimento, que ignora a sua origem e a
sua história. O Passe Livre, meus caros leitores, não é uma associação
que luta por indivíduos mais livres, mais autônomos, mais independente
do Estado. Ao contrário: do que dá para perceber de sua concepção de
sociedade — e se pode ter uma sem que se tenha clareza disso —, os
valentes querem outra coisa. Anseiam por uma democracia tutelada por
movimentos sociais organizados, que arrogam para si o direito da
representação sem passar pelo ritual das eleições. E, POIS, DEMOCRACIA
NÃO É.
À
diferença do que se diz por aí, a crise está menos na democracia
brasileira, na classe política ou nos Poderes — como se tornou hábito
repetir bovinamente, na imprensa inclusive — do que nos instrumentos de
análise e de percepção da realidade. Se existe uma crise, ela é de
natureza intelectual, isto sim!, de parâmetros. Esse mal-estar, prefiro
chamá-lo assim, contamina hoje a academia — o pensamento propriamente — e
a imprensa. Perderam-se referenciais e valores do que sejam sociedade
livre e representação. Essa conversa de que a redução da tarifa é apenas
a face visível de um malaise mais profundo — onde se
esconderiam repúdio à corrupção, aos desmandos, à gastança irresponsável
do governo — traduz mais uma esperança do que um fato. Lamento, mas
entendo rigorosamente o contrário.
A bandeira
dos 20 centavos (e notem que ele é ponto de honra dos valentes, que não
aceitam negociar) é um ensaio do que entendem ser — e com apoio de
muitos pensadores ditos alternativos — a democracia direta, sem a
mediação de autoridades eleitas, de instituições, do Parlamento, de
partidos.
Uma nota antes que avance
– O repúdio a bandeiras de partidos políticos, que a tantos encanta, a
mim causa preocupação. Eu não tenho nada contra a existência de
partidos. Ao contrário! Posso esculhambar impiedosamente aqueles de que
discordo, mas ainda não se conseguiu inventar uma maneira melhor de se
articularem as diferenças. Eu abomino o PSTU e tudo o que ele pensa. Eu
abomino o PSOL e tudo o que ele pensa. Eu abomino o PCO e tudo o que ele
pensa. Mas eu abomino também quem imagina que pode ocupar a cidade, da
forma como lhe der na telha, sem prestar satisfações a ninguém, e ainda
se sente no direito de forçar o outro a enrolar a sua bandeira. Noto que
há gente que não entendeu até hoje qual é o meu paradigma. Esse ódio à
política é burro, é obscurantista, é ingênuo.
A questão,
é bom que fique claro, não é de conteúdo — porque não é mesmo; seria
ridículo imaginar toda essa movimentação por causa de 20 centavos — mas
de método. Nesse caso, forma é conteúdo. Não! Não são apenas os vândalos
que afrontam a noção mais comezinha de democracia. Também os que são
chamados de “pacíficos” entendem que podem violar a Constituição sem
dever satisfações a ninguém. Eles se negam até a negociar.
A Polícia
Militar de São Paulo prendeu 56 pessoas por causa de atos de vandalismo e
selvageria, que tiveram início no fim da tarde, com o ataque ao prédio
da Prefeitura. Como? O Movimento Passe Livre não tem nada com isso? Uma
ova! Então leiam trecho do que vai na Folha de S. Paulo (em vermelho):
O MPL
(Movimento Passe Livre) disse condenar a violência, mas classificou como
“revolta popular” os atos de vandalismo e saque ocorridos ontem em São
Paulo. Marcelo Hotimsky, um dos líderes do MPL, disse que os episódios
registrados ontem são a prova de que “o prefeito vai ter que baixar a
tarifa”.
“Tudo o
que aconteceu é a revolta popular. Se quiser manter a cidade em ordem,
vai ter que mudar para conter esse sentimento de revolta”, afirmou
Hotimsky em entrevista à Folha. Ele afirmou que não há o que comentar
sobre os saques. Hotimsky afirmou que o grupo condena a violência, mas
entende que o que ocorreu é fruto da revolta.
(…)
(…)
Voltei
Não me peçam para condescender com o lixo desse pensamento, inferior àquele que eles vêm queimando nas ruas. Sei lá que idade tem esse cara. Deve ser maduro o suficiente para não dizer uma estupidez desse tamanho. Revolta popular por quê? Então esse tal Hotimsky tem de dizer o que querem os revoltosos? Qual é a sua pauta? Só os 20 centavos? Se o prefeito ceder, como parece que pode fazer, eles param de saquear lojas, de roubar, de depredar?
Não me peçam para condescender com o lixo desse pensamento, inferior àquele que eles vêm queimando nas ruas. Sei lá que idade tem esse cara. Deve ser maduro o suficiente para não dizer uma estupidez desse tamanho. Revolta popular por quê? Então esse tal Hotimsky tem de dizer o que querem os revoltosos? Qual é a sua pauta? Só os 20 centavos? Se o prefeito ceder, como parece que pode fazer, eles param de saquear lojas, de roubar, de depredar?
Ele não é
bobo. Sabe que os saqueadores são a sua tropa de assalto, são a sua SA.
TVs, jornais, sites, portais estão tratando esses caras como um misto de
Schopenhaurer com Tocqueville? Pois, para mim, são um misto de Ernst
Röhm com Macunaíma em estado larvar. Por que declarações como essa — que
não passam de uma justificativa escancarada da violência — não ganham
destaque nas TVs? Esse é o rapaz que lidera o que se está chamando de
“manifestação pacífica”?
Não me confundam
Já recebi aqui algumas mensagens que considero meio indecorosas, de gente que, definitivamente, não entendeu o que eu penso. “Você não percebeu ainda que isso é ruim para o Haddad? Não é você que vive atacando os petralhas”?
Já recebi aqui algumas mensagens que considero meio indecorosas, de gente que, definitivamente, não entendeu o que eu penso. “Você não percebeu ainda que isso é ruim para o Haddad? Não é você que vive atacando os petralhas”?
É, bom
para ele, com certeza, não é? Mas eu deveria gostar disso, ainda que
considere ruim para o país? Este cara não sou eu. Já escrevi aqui
algumas dezenas de vezes e o farei quantas vezes forem necessárias: NEM
TUDO O QUE NÃO É PT ME SERVE — à esquerda, à direita e ao centro. E essa
gente não me serve. Movimento que flerta com saques, com quebra-quebra,
com agressão e que tem o desplante de acusar a vítima tem de ser banido
da convivência democrática.
É claro
que os petistas, e Fernando Haddad, em particular são corresponsáveis
por isso tudo. Os que vislumbram a chance de o PT sofrer um severo
desgaste se esquecem de que essa gente era aliada do partido até outro
dia. Haddad cresceu — e a máquina eleitoral que fez a sua campanha — nas
asas desses movimentos difusos, autoritários, de almofadinhas
candidatos a ditadores que se consideram representantes do povo mesmo
sem ter sido eleitos por ninguém. Não ignoro nada disso. Sei que ele
prova parte do veneno que produziu; sei que o corvo que ele alimentou
tenta lhe arrancar os olhos, mas pedem que eu aplauda e me solidarize
COM QUEM SE NEGA A CONDENAR SAQUEADORES PORQUE SABE QUE ELES CONSTITUEM O
SEU BRAÇO OPERATIVO?
Não contem
comigo para isso, nem que seja para desmoralizar o PT. Não contem
comigo para isso nem que seja para desmoralizar o governo Dilma.
Caixa de Pandora
Usei aqui a imagem da Caixa de Pandora desde o primeiro dia, como vocês sabem. Estão é tirando a tampa do vale-tudo. Como observou de forma luminosa a professora Janaina Paschoal, assistimos ao encontro do “construtivismo com território livre”. Há nisso, é certo, um traço de classe social também. Se eu tivesse de juntar um terceiro elemento, acrescentaria as “aulas de humanas” de “professores progressistas” das… escolas particulares! Essa gente carrega, do berço, a noção de que a lei que vale para os outros não pode atingi-la. Foi cevada na cultura do “tudo é permitido e todo ‘não’ é uma violência”. E foi instada pelos barbudinhos a “mudar o mundo” e a sair de sua zona de conforto e “lutar pelo oprimido”. Aí, meus caros, basta lutar para assaltar o céu.
Usei aqui a imagem da Caixa de Pandora desde o primeiro dia, como vocês sabem. Estão é tirando a tampa do vale-tudo. Como observou de forma luminosa a professora Janaina Paschoal, assistimos ao encontro do “construtivismo com território livre”. Há nisso, é certo, um traço de classe social também. Se eu tivesse de juntar um terceiro elemento, acrescentaria as “aulas de humanas” de “professores progressistas” das… escolas particulares! Essa gente carrega, do berço, a noção de que a lei que vale para os outros não pode atingi-la. Foi cevada na cultura do “tudo é permitido e todo ‘não’ é uma violência”. E foi instada pelos barbudinhos a “mudar o mundo” e a sair de sua zona de conforto e “lutar pelo oprimido”. Aí, meus caros, basta lutar para assaltar o céu.
Esses são
traços do microcosmo. Junte-se a isso a cultura que se vai consolidando
entre nós de que o estado é o grande provedor de tudo, de que a direitos
não correspondem deveres e de que as leis, a exemplo do que se verifica
hoje com outros ditos “movimentos sociais”, não pode alcançá-los, e
temos o que se vê aí. “Ah, mas eles também são contra a corrupção!” Que
bom! Só faltava que falassem a favor, não é? “Ah, mas eles querem menos
estádio bonito e mais hospitais…” Lamento! Essa não é uma permuta que
faça sentido orçamentário, político ou administrativo. A formulação
traduz ignorância. Mas sei que a democracia também existe para os
ignorantes. Ok! Mas não pode permitir que os autoritários se imponham.
Eleição
Os eleitores de oposição que veem esse troço com esperança estão cometendo, ademais, um grave equívoco. Esse sentimento que está nas ruas, com toda a sua prática autoritária, troglodita às vezes (o “Passe Livre” deixa claro que a distinção entre os dois grupos só existe na imprensa —, lamento afirmar, fortalece as posições de esquerda; até da extrema esquerda. Vejo também vagas de pensamento que combinariam com a pregação de Marina Silva. E só. É obscurantismo demais para o meu gosto.
Os eleitores de oposição que veem esse troço com esperança estão cometendo, ademais, um grave equívoco. Esse sentimento que está nas ruas, com toda a sua prática autoritária, troglodita às vezes (o “Passe Livre” deixa claro que a distinção entre os dois grupos só existe na imprensa —, lamento afirmar, fortalece as posições de esquerda; até da extrema esquerda. Vejo também vagas de pensamento que combinariam com a pregação de Marina Silva. E só. É obscurantismo demais para o meu gosto.
Não! Não
vou condescender, não! Se o PT está com medo deles e tem de lhes fazer
mesuras porque depende de voto, eu não dependo. Preciso, como todo mundo
que escreve, de leitores. Mas, como sabem os frequentadores desta
página, não puxo o saco nem dos frequentadores desta página, levados a
ler, com alguma frequência, aquilo de que discordam.
De resto,
caminhando para a conclusão, lembro que pegadas de funcionários da
Secretaria-Geral da Presidência — cujo titular é o lulista Gilberto
Carvalho — foram encontradas na bagunça de Brasília. A eventual
derrocada de Dilma jogaria a candidatura do PT para aquele que é hoje (e
para sua melancolia) o segundo da fila: Lula. Não estou sugerindo uma
conspiração. Estou apenas contando como são as coisas.
Não se
iludam, minhas caras, meus caros! Se vocês querem uma sociedade
democrática, pluralista, aberta, que se oriente segundo os parâmetros da
representatividade, o Movimento Passe Livre e seus métodos de luta
caminham em sentido contrário. Quem transforma saqueadores e
depredadores em “revoltosos sociais” quer ditadura, não democracia.
Não no meu blog. Definitivamente não! Haddad pode ter de ceder a eles! Eu não tenho!
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