O PANORAMA VISTO DA SERRA

sábado, 8 de junho de 2013

PESO DO ALGODÃO

 Por no Ordem Livre

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Custa caro ser pobre.
Meu carro é o coitado de um FIT. Custou muito caro. Se eu morasse nos Estados Unidos, com o mesmo valor, eu poderia comprar uma Cherokee. Mas eu moro num país pobre. Preciso gastar mais para ter menos. Meu laptop é o mais básico da Apple. Paguei três mil reais por ele. Se eu morasse nos Estados Unidos, eu poderia comprar dois Macbooks com esse dinheiro. E o iPod? Lá nos EUA, você compra um de 160 GB por 400 reais. Aqui sai por 900. E o Kindle? E as câmeras fotográficas? E as roupas? E os vinhos? Um vinho californiano básico, de supermercado, é vinho sofisticado por aqui.
É. Custa caro ser pobre. (Amigos meus falaram que em Luanda, a capital de Angola, tudo é extremamente caro. É a cidade mais cara em que eles já estiveram. Lá você precisa ter bem mais dinheiro pra ser ainda mais pobre do que é no Brasil.)
As coisas por aqui custam caro porque o Brasil é um país fechado. Cercado de altas barreiras alfandegárias. Pra importar, você tem que pagar muito imposto.
Mas o Brasil gostaria que os outros países não tivessem barreira alfandegária nenhuma. O Brasil gostaria que os outros países não taxassem seus produtos e nem oferecessem subsídios (outra especialidade brasileña) às suas empresas locais. O Brasil gostaria que os outros países comprassem o que quisessem de nós pelo melhor preço possível.
E quando um país aumenta alguma taxa de importacão ou algum subsídio, o Brasil reclama. O Brasil pode ter — e tem — taxas muito mais altas e muito mais subsídios, mas não quer nem saber. Reclama. Grita. Esperneia.
Um dos esperneios durou oito anos. E acabou de dar resultado. Vocês já devem saber. Por causa dos subsídios americanos à produção de algodão, a Organização Mundial do Comércio deu permissão ao Brasil para retaliar.
Os Estados Unidos são um país muito mais aberto que o Brasil. Eles é que deveriam reclamar na OMC. Mas o Brasil é insignificante demais e os Estados Unidos são ricos e odiados demais. Os Estados Unidos só salvaram o mundo duas vezes e produzem boa parte das melhores coisas que o mundo tem a oferecer. Mas está na moda ficar contra os Estados Unidos. O Brasil é um país abarrotado de ladrões e assassinos, de vigaristas e idiotas, de canalhas e incompetentes, mas, ah, o Brasil é um país divertido, samba, sol, prostituta. Brasil = legal.
A OMC autorizou uma retaliação no valor de 829 milhões de dólares. E o Brasil imediatamente anunciou que pretende aumentar os impostos de importação de 102 produtos americanos. Entre eles, carros, barcos, relógios, fogões, fornos, óculos de sol, fones de ouvido, pastas de dente e diversas comidas (arenque, tripas, nozes, ketchup). E essa é só a primeira parte da relatiação. O governo ainda pretende sobretaxar “os setores de propriedade intelectual e serviços”.
Em outras palavras: o Brasil quer deixar um monte de produto ainda mais caro para o consumidor brasileiro. E quando um produto fica mais caro, as pessoas ficam mais pobres. Afinal, elas tem que gastar mais para comprar a mesma coisa que elas compravam antes por um valor menor. E se gastam mais com uma coisa, precisam deixar de comprar outra, pra compensar. E se deixam de comprar, alguém deixa de vender. E se alguém deixa de vender, deixa de ganhar. E se deixa de ganhar, deixa de gastar. E se deixa de gastar… Bem, a consequência é que o dinheiro vale menos. O país fica mais pobre.
Isso, evidentemente, não é retaliação. É retalhação. É retalhar a própria carne. É uma política masoquista. É autoflagelação.
O Brasil age assim: “Ah, é? Vocês querem me ferrar comprando menos algodão de mim? Então vamos ver quem é melhor: eu vou me ferrar ainda mais. Vou fazer com que um monte de produto fique ainda mais caro por aqui! Vou deixar minha população ainda mais pobre! Vou empobrecer o país em milhões de dólares, HAHAHAHA! Vamos ver quem é que ferra melhor! Vocês ou nós! HAHAHAHAHA! Bando de losers!”
Custa caro ser pobre.
*
A diplomacia brasileira parece o Hugh Grant. Sem o talento. Sem o charme. Quer dizer, só tem uma coisa parecida com o Hugh Grant. Seguinte: podia ir pra cama com a Elizabeth Hurley, mas prefere ir pro banco de trás do carro com a Divine Brown.
Pra quem não entendeu a analogia:
Elizabeth Hurley = Estados Unidos da América
Divine Brown = Irã. Cuba. Venezuela.

* Publicado originalmente em 16/03/2010.

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