O PANORAMA VISTO DA SERRA

sábado, 2 de novembro de 2013

DE ACM A DILMA: VIAS E VEIAS DA BAHIA

Vitor Hugo Soares
A construção foi iniciada com o nome de Via Portuária, na administração do governador Paulo Souto (DEM), na época em que Antonio Carlos Magalhães (ACM) era quem ainda mandava na Bahia.
Nesta sexta-feira, primeiro dia de novembro de 2013, foi inaugurada com o nome de Via Expressa, aquela que a farta (e custosa) propaganda oficial anuncia como “a maior obra viária e de mobilidade urbana realizada no estado nos últimos 30 anos”.
Atualmente, quem manda no terreiro da política baiana é o governador petista Jaques Wagner (cercado de aliados e auxiliares ex-carlistas por todos os lados). Político e administrador “nascido, por engano, no Rio de Janeiro, pois ele é o mais baiano dos baianos que eu conheço”, conforme definiu a presidente da República, Dilma Rousseff, na entrevista a duas emissoras de rádio locais, logo ao desembarcar em Salvador (pela segunda vez em duas semanas) para comandar a festa de inauguração.
Na manhã de ontem, foi este o primeiro dos sinais, explícitos e implícitos, de que o tempo passa, passam os donos do poder, mas os hábitos, costumes, discursos e, principalmente, as práticas políticas e administrativas, seguem quase inalterados no estado e na Cidade da Bahia. Mais imunes aos anos, ventos e tempestades, que as próprias construções.
Foi em ambiente típico de “samba exaltação” que a obra foi entregue. O toque dos tambores de ressonância e a dança efusiva, no entanto, começaram bem antes.
Quando, apesar da alegada crise financeira do governo Wagner, e dos pedidos reiterados de contenção de gastos da administração federal, que Dilma comanda de Brasília, foi dada a partida da intensa e insinuante onda publicitária que antecedeu a vinda da presidente para a entrega da obra do PAC, ao lado “do companheiro e amigo querido”.
Referências à ex-Via Portuária foram riscadas da prancheta. Assim como ao ex-governador Paulo Souto (carlista fiel e de origem, segundo colocado em todas as pesquisas de nomes preferidos à sucessão de Wagner, atrás apenas do prefeito da capital, ACM Neto, cujo cartão de identidade e DNA dispensa outras contextualizações de procedência).
Só alguns poucos – na imprensa, no rádio, na televisão, nos sindicatos ou nos parlamentos baianos e no Congresso - lembraram o papel de Souto (e do ex-prefeito carlista e atual deputado federal tucano, Antonio Imbassahy, quando nem se falava do PAC) na execução da importante e – espera-se – crucial obra para aliviar a vida dos soteropolitanos.
Principalmente aqueles que, por motivo de trabalho, ou outras razões quaisquer, são obrigados a suportar, diariamente, a tortura infernal em que se transformou o direito cidadão de ir e vir, trafegando pelas vias congestionadas, perigosas e violentas da capital baiana - a qualquer hora do dia ou da noite.
Tudo em meio à longa espera da construção do “metrô de Salvador”, obra multimilionária e inacabada, monumento à vergonha com pedaços espalhados ao ar livre e no subsolo, por vários pontos da Cidade da Bahia.
Foco de malfeitos, mazelas e desvios de recursos públicos, que há 13 anos atravessa sucessivas e diferentes gestões. “Metrô” que já consumiu R$ 1 bilhão, sem até hoje ter conduzido um único passageiro. A retomada das obras, com nova injeção de recursos, aos mesmos construtores, foi o motivo da visita anterior da presidente da República à Bahia, há menos de 20 dias.
“Amaldiçoado quem pensar mal destas coisas”, diriam os franceses ao usar com ironia, uma de suas expressões preferidas para definir acontecimentos semelhantes a estes verificados na Bahia (e em outras partes do País) neste tempo de antecipada pré-campanha presidencial, que tanta gente condena nos discursos mas, praticamente, todo mundo faz.
Nesta sexta, dia de todos os santos, a presidente Dilma veio trazendo a tiracolo o seu ministro dos Transportes, Cesar Borges (PR e ex-governador do estado, citado e recitado, até recentemente, como “um carlista puro sangue”), para entregar a grande obra e homenagear o amigo e companheiro Jaques Wagner.
Desde o aeroporto, apesar do intenso calor, rolou um clima meio moscovita de tentativa de obscurecimento de personagens e de apagão da memória, na entrega da Via Expressa. Celebrada como “a maior obra do PT em Salvador” (capital governada por ACM Neto, do DEM, presente no palanque, e marca sinalizadora de “novos caminhos para a capital baiana”).
Ô, Bahia! Passa o tempo, mudam os políticos e os governantes, mas “a terra do Senhor do Bonfim” continua praticamente a mesma. Ou não?
Responda quem souber!

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