Vitor Hugo Soares
A construção foi iniciada
com o nome de Via Portuária, na administração do governador Paulo Souto
(DEM), na época em que Antonio Carlos Magalhães (ACM) era quem ainda
mandava na Bahia.
Nesta sexta-feira, primeiro dia de novembro de
2013, foi inaugurada com o nome de Via Expressa, aquela que a farta (e
custosa) propaganda oficial anuncia como “a maior obra viária e de
mobilidade urbana realizada no estado nos últimos 30 anos”.
Atualmente,
quem manda no terreiro da política baiana é o governador petista Jaques
Wagner (cercado de aliados e auxiliares ex-carlistas por todos os
lados). Político e administrador “nascido, por engano, no Rio de
Janeiro, pois ele é o mais baiano dos baianos que eu conheço”, conforme
definiu a presidente da República, Dilma Rousseff, na entrevista a duas
emissoras de rádio locais, logo ao desembarcar em Salvador (pela segunda
vez em duas semanas) para comandar a festa de inauguração.
Na
manhã de ontem, foi este o primeiro dos sinais, explícitos e implícitos,
de que o tempo passa, passam os donos do poder, mas os hábitos,
costumes, discursos e, principalmente, as práticas políticas e
administrativas, seguem quase inalterados no estado e na Cidade da
Bahia. Mais imunes aos anos, ventos e tempestades, que as próprias
construções.
Foi em ambiente típico de “samba exaltação” que a
obra foi entregue. O toque dos tambores de ressonância e a dança
efusiva, no entanto, começaram bem antes.
Quando, apesar da
alegada crise financeira do governo Wagner, e dos pedidos reiterados de
contenção de gastos da administração federal, que Dilma comanda de
Brasília, foi dada a partida da intensa e insinuante onda publicitária
que antecedeu a vinda da presidente para a entrega da obra do PAC, ao
lado “do companheiro e amigo querido”.
Referências à ex-Via
Portuária foram riscadas da prancheta. Assim como ao ex-governador Paulo
Souto (carlista fiel e de origem, segundo colocado em todas as
pesquisas de nomes preferidos à sucessão de Wagner, atrás apenas do
prefeito da capital, ACM Neto, cujo cartão de identidade e DNA dispensa
outras contextualizações de procedência).
Só alguns poucos – na
imprensa, no rádio, na televisão, nos sindicatos ou nos parlamentos
baianos e no Congresso - lembraram o papel de Souto (e do ex-prefeito
carlista e atual deputado federal tucano, Antonio Imbassahy, quando nem
se falava do PAC) na execução da importante e – espera-se – crucial obra
para aliviar a vida dos soteropolitanos.
Principalmente aqueles
que, por motivo de trabalho, ou outras razões quaisquer, são obrigados a
suportar, diariamente, a tortura infernal em que se transformou o
direito cidadão de ir e vir, trafegando pelas vias congestionadas,
perigosas e violentas da capital baiana - a qualquer hora do dia ou da
noite.
Tudo em meio à longa espera da construção do “metrô de
Salvador”, obra multimilionária e inacabada, monumento à vergonha com
pedaços espalhados ao ar livre e no subsolo, por vários pontos da Cidade
da Bahia.
Foco de malfeitos, mazelas e desvios de recursos
públicos, que há 13 anos atravessa sucessivas e diferentes gestões.
“Metrô” que já consumiu R$ 1 bilhão, sem até hoje ter conduzido um único
passageiro. A retomada das obras, com nova injeção de recursos, aos
mesmos construtores, foi o motivo da visita anterior da presidente da
República à Bahia, há menos de 20 dias.
“Amaldiçoado quem pensar
mal destas coisas”, diriam os franceses ao usar com ironia, uma de suas
expressões preferidas para definir acontecimentos semelhantes a estes
verificados na Bahia (e em outras partes do País) neste tempo de
antecipada pré-campanha presidencial, que tanta gente condena nos
discursos mas, praticamente, todo mundo faz.
Nesta sexta, dia de
todos os santos, a presidente Dilma veio trazendo a tiracolo o seu
ministro dos Transportes, Cesar Borges (PR e ex-governador do estado,
citado e recitado, até recentemente, como “um carlista puro sangue”),
para entregar a grande obra e homenagear o amigo e companheiro Jaques
Wagner.
Desde o aeroporto, apesar do intenso calor, rolou um clima
meio moscovita de tentativa de obscurecimento de personagens e de
apagão da memória, na entrega da Via Expressa. Celebrada como “a maior
obra do PT em Salvador” (capital governada por ACM Neto, do DEM,
presente no palanque, e marca sinalizadora de “novos caminhos para a
capital baiana”).
Ô, Bahia! Passa o tempo, mudam os políticos e os
governantes, mas “a terra do Senhor do Bonfim” continua praticamente a
mesma. Ou não?
Responda quem souber!
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