O PANORAMA VISTO DA SERRA

domingo, 22 de setembro de 2013

UMA GRANDE HISTORIA PARA EXPLICAR COMO E ONDE COMEÇA UM PENSAMENTO LIVRE. LIVRE DE TODAS AS INFLUENCIAS QUE ÀS VEZES LEVAM A PENSAR QUE OS FINS SÃO ALGO QUE, POR NÃO SABERMOS ONDE IRÃO PARAR, NEM POR ISSO TEREMOS QUE TRILHAR POR CAMINHOS OBSCUROS E APARENTEMENTE MAIS FÁCEIS. OU, MAIS DO QUE ISTO: QUE NÃO TENHAM SAÍDO DE PESSOAS COMO ROSE WILDER LANE ( “Todos sabiam que ninguém era igual a ninguém. Você poderia medir um tecido com uma fita métrica, ou a distância em milhas, mas não poderia juntar pessoas e medi-las com nenhuma régua. Idéias e caráter não dependiam de nada a não ser da própria pessoa. Algumas pessoas não tinham aos sessenta o juízo que outras tinham aos dezesseis”(The Long Winter).


BIOGRAFIA: ROSE WILDER LANE
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No início dos anos 40, tiranos oprimiam ou ameaçavam povos em todos os continentes. Intelectuais ocidentais ocultavam assassinos em massa, como Joseph Stalin, e governos ocidentais expandiam seus poderes ao estilo soviético de planejamento central. Cinquenta milhões de pessoas foram mortas na guerra travada na Europa, na África e na Ásia. Os Estados Unidos, aparentemente a última esperança para a liberdade, também foram arrastados para dentro dela.
Autores americanos consagrados que defendiam a liberdade eram uma raça em extinção. O crítico literário H. L. Mencken havia se afastado da política para escrever suas memórias, enquanto outros, como o escritor Albert Jay Nock e o jornalista Garet Garrett, estavam cheios de pessimismo. Em meio ao pior dos tempos, Rose Wilder Lane ousou declarar que o coletivismo era um mal. Ela se levantou em defesa dos direitos naturais, a única filosofia que oferecia uma base moral para se opor à tirania em todos os lugares, e celebrou o antigo e vigoroso individualismo. Ela previu um futuro em que as pessoas poderiam ser livres de novo, e expressou-o com exuberante otimismo.
Lane era uma estrangeira que veio de um território que não era ainda parte dos Estados Unidos e iniciou uma carreira antes de muitas mulheres terem direitos iguais. Tornou-se uma das escritoras freelance de maior sucesso em sua época. Viajou a trabalho pela Europa Oriental e aos 78 anos se tornou correspondente de guerra no Vietnã. Publicou textos em American MercuryCosmopolitanCountry GentlemanGood HousekeepingHarper’sLadies’ Home JournalMcCall’sRedbookSaturday Evening PostSunset, Woman’s Day, e outras revistas. Produziu roteiros para o apresentador de rádio Lowell Thomas, cuja especialidade eram aventuras de viagens exóticas, e escreveu biografias de Charles Chaplin, Henry Ford e Jack London. Seu romance Let the Hurricane Roar [“Deixe o furacão rugir”] (1933) foi um best-seller que permaneceu em catálogo por quatro décadas e foi adaptado para a televisão como Young Pioneers [“Jovens pioneiros”]. Seu livro The Discovery of Freedom [“A descoberta da liberdade”](1943), ainda disponível, ajudou a inspirar o moderno movimento libertário. Ela atingiu seu maior impacto quando transformou as histórias contadas por sua mãe na adorada série de livros Little House [“Casinha”], tratando temas como responsabilidade individual, auto-confiança, cortesia, coragem e amor. Muitas pessoas consideram-na a melhor série de livros infantis já escrita.
Referindo-se a Lane e suas compatriotas, a jornalista Isabel Paterson e a romancista Ayn Rand, John Chamberlain, editor da Fortune, escreveu admiradamente que “com um olhar desdenhoso para a comunidade empresarial masculina, elas decidiram reacender a fé em uma filosofia americana mais antiga. Não havia nenhuma economista dentre elas. E nenhuma delas era uma Ph.D”. Albert Jay Nock declarou que “elas fazem com que nós escritores homens nos pareçamos com dinheiro Confederado [N.T.: sem valor]. Elas não se descuidam nem perdem tempo – cada tiro vai direto ao ponto”.
O biógrafo William Holtz notou que a filosofia política foi “o principal interesse de Lane durante metade de sua vida adulta. Ela era uma figura importante na transmissão do persistente fio de pensamento libertário em nosso país, e muitos daqueles que respeitam e amavam-na formavam na verdade um tipo de camaradagem entre guerreiros contra o Estado. (…) Altamente autodidata, sempre uma leitora voraz e variada e, por temperamento, uma pensadora independente, ela acreditava em poucas coisas simplesmente por fé, testado idéias instintivamente contra sua própria experiência”.
Lane uma vez descreveu a si mesma como uma “rechonchuda mulher de meia-idade, do Meio-Oeste, de classe média, com cabelos brancos e gostos simples. Eu gosto de pipoca amanteigada, amendoim salgado, pão e leite”. Ela tinha dentes feios, seu casamento fracassara, ela trabalhava para ajudar seus pais idosos, e em certa época durante os anos 30 ela se encontrava tão mal financeiramente que sua eletricidade foi cortada. Ainda assim, ela se elevou com eloquência ao ajudar a reviver os princípios libertários da Revolução Americana, e inspirou milhões.
Ela nasceu Rose Wilder, em 5 de dezembro de 1886, perto de De Smet, Território de Dakota. Seu pai, Almanzo Wilder, e sua mãe, Laura Ingalls, eram fazendeiros pobres, devastados pela seca, pelas tempestades de granizo e outras calamidades. Por muitos anos, a família viveu em uma cabana sem janelas e perdeu muitas refeições. Nomearam sua filha em razão das rosas selvagens que floresciam na pradaria.
“Nós não gostávamos de disciplina,” recordou-se Rose, “então sofremos até que nos disciplinássemos. Vimos muitas coisas e muitas oportunidades que desejávamos ardentemente mas pelas quais não podíamos pagar, então nós não as comprávamos, ou o fazíamos às custas de um estupendo e desgostoso esforço e auto-negação, já que as dívidas eram mais difíceis de aguentar do que as privações. Nós éramos honestos, não porque a pecaminosa natureza humana assim o quisesse, mas porque as consequências da desonestidade eram excessivamente dolorosas. Estava claro que se sua palavra não fosse tão boa quanto uma promissória assinada por você, sua promissória não era tão boa e você não valia nada. … Nós aprendemos que é impossível conseguir algo em troca de nada”.
Quando Rose tinha quatro anos, sua família desistiu de Dakota e se mudou para Mansfield, Missouri, onde poderiam plantar maçãs. Ela passou a frequentar uma escola de quatro salas e paredes de tijolos vermelhos que tinha duas prateleiras de livros, e descobriu as maravilhas de Charles Dickens, Jane Austen e Edward Gibbon. Seu principal suporte foi a famosa Readers [“Leitores”], compilada por William Holmes McGuffey, presidente do Cincinnati College, que transmitia lições morais conforme ensinava os fundamentos da leitura e expunha mentes jovens a muitos grandes autores da civilização Ocidental. Mas ela deixou a escola no nono ano e decidiu que deveria ver o mundo além do interior de Missouri. Ela tomou um trem até Kansas City e conseguiu um emprego como telefonista na Western Union durante o turno da noite. Passava a maior parte de seu tempo livre lendo. Em 1908, foi a San Francisco para um trabalho pela Western Union. Lá ela teve um romance com o vendedor de mídia Gillette Lane, com quem se casou em março de 1909. Ficou grávida, mas teve um parto prematuro ou um aborto espontâneo. Ela não pôde mais engravidar depois disso.
Em 1915 seu casamento já havia acabado, mas através das conexões de Gillette em jornais, Rose teve seu início como jornalista. Para o San Francisco Bulletin, um jornal operário radical, ela começou a escrever uma coluna para mulheres, passando para um perfil diário de 1.500 palavras sobre personalidades, e escrevendo um romance autobiográfico em série na revista Sunset.
Por algum motivo ela se tornou uma socialista cristã, e uma fã do socialista Eugene Debs. Então a Revolução Bolchevique cativou sua imaginação e ela abraçou o comunismo. Enquanto estava em Nova York, onde ela esperava lançar-se em uma carreira como escritora freelancer, conheceu o divulgador comunista John Reed e o escritor comunista Max Eastman.
Em março de 1920, a Cruz Vermelha convidou-a para viajar pela Europa e noticiar os seus esforços humanitários, para que potenciais doadores – de cujo apoio eles dependiam – soubessem do bem queestavam fazendo. Vivendo em Paris, viajou para Viena, Berlim, Praga, Varsóvia, Budapeste, Roma, Sarajevo, Dubrovnik, Tirana, Trieste, Atenas, Cairo, Damasco, Bagdá e Constantinopla. Lane imaginava que a Europa fosse a grande esperança para a civilização, mas em vez disso ela teve que fugir de bandidos, encontrou corrupção burocrática, resistiu à inflação acelerada e testemunhou os horrores da guerra civil e as sombras obscuras de tiranias cruéis.
Quando Lane visitou a União Soviética, os Bolcheviques estavam no poder havia quatro anos. Ela esperava que os camponeses estivessem radiantes com o comunismo, mas conforme ela relatou depois, “Meu anfitrião me surpreendeu pela força com que dizia não gostar do novo governo. (…) Sua reclamação era de que o governo interferia nos assuntos da vila. Ele protestou contra a crescente burocracia que estava afastando mais e mais homens do trabalho produtivo. Ele previu caos e sofrimento como resultados da centralização do poder econômico em Moscou”. “Eu deixei a União Soviética não sendo mais uma comunista”, ela continuou, “pois eu acreditava na liberdade pessoal. Como todos os americanos, eu subestimei o valor da liberdade individual em meio à qual eu havia nascido. Ela era tão necessária e inevitável quanto o ar que eu respirava; era o elemento natural no qual seres humanos vivem. A idéia de que eu poderia perdê-la nunca havia me ocorrido. E eu não poderia conceber que multidões de seres humanos estivessem dispostos a viver sem ela”.
Após seu retorno aos Estados Unidos em novembro de 1923, sua carreira floresceu conforme ela passou a escrever para revistas famosas e a publicar romances sobre a vida de pioneiro. A famosa atriz Helen Hayes protagonizou o romance de Lane Let the Hurricane Roar no rádio. Não obstante, Lane ficou economicamente devastada durante a Grande Depressão. Em 1931 ela lamentou, “Tenho quarenta e quatro anos. Devo US$ 8.000,00. Tenho US$ 502,70 no banco. (…) Nada do que eu pretendia jamais foi realizado”.
Em 1936, Lane escreveu “Credo”, um artigo para o Saturday Evening Post. Três anos depois, Leonard Read, gerente geral da Câmara de Comércio de Los Angeles, ajudou a criar a editora por ele nomeada Pamphleteers [“Panfleteiros”], que relançou o artigo de Lane como Give Me Liberty [“Dê-me liberdade”]. “Eu comecei a entender aos poucos”, escreveu ela, “que sou dotada de liberdade inalienável pelo Criador assim como sou dotada da minha própria vida; que a minha liberdade é inseparável da minha vida”.
Em 1942, um editor da John Day Company pediu que Lane escrevesse um livro sobre a liberdade. Ela começou o trabalho em um estacionamento para trailers no Texas durante uma viagem pelo Sudoeste e chegou a pelo menos dois rascunhos em sua casa em Danbury, Connecticut. The Discovery of Freedom: Man’s Struggle Against Authority [“A descoberta da liberdade: a luta do homem contra a autoridade”], publicado em janeiro de 1943, narrava a luta épica de pessoas comuns que desafiam governantes para criar suas famílias, produzir comida, construir indústrias, comerciar, e melhorar a vida humana de incontáveis maneiras. Ela foi lírica a respeito da Revolução Americana, que ajudou a garantir liberdade e libertou uma energia fenomenal para o progresso humano. “Por que os homens morreram de fome por seis mil anos?” perguntou. “Por que eles caminharam e carregaram bens e outros homens sobre suas costas, por seis mil anos, e subitamente, em um século, apenas em um sexto da superfície da Terra, eles fizeram navios a vapor, ferrovias, motores, aviões, e agora estão pela Terra nas mais estupendas alturas? Por que famílias viveram em por milênios em choupanas sem telhados, janelas ou chaminés, então, em oito anos e apenas nestes Estados Unidos, passaram a ter assoalhos, chaminés, janelas de vidro como algo certo, e consideram luz elétrica, vasos sanitários de porcelana e cortinas como necessidades mínimas?”
Ela atribuiu estes desenvolvimentos dramáticos à liberdade. Ela saudou as proteções constitucionais “proibindo o governo americano de expropriar ou realizar buscas na pessoa de um americano sem um devido processo legal; de aprisioná-lo sem julgamento; de julgá-lo em segredo ou sem deixá-lo convocar testemunhas em sua defesa; de julgá-lo duas vezes pelo mesmo crime; de puni-lo por crime cometido por outra pessoa; de recusar-lhe julgamento por júri ou negar-lhe o direito a apelação; de torturá-lo; ou negar-lhe seu direito de associação, ou seu direito a peticionar o governo, ou seu direito de ter armas, ou seu direito de possuir propriedade”.
Lane ficou insatisfeita com o livro e recusou permissão para republicá-lo. Ela nunca chegou a completar outra edição. Apenas mil cópias do livro foram imprimidas durante sua vida. Apesar disso, The Discovery of Freedom teve grande impacto, circulando como um clássico underground. Ele ajudou a inspirar o início de várias organizações voltadas à promoção da liberdade durante os anos 40 e 50, dentre elas, a Foundation for Economic Education, de Leonard Read, o Institute for Humane Studies, de F. A. Harper, e a Freedom School, de Robert M. Lefevre.
Embora The Discovery of Freedom tenha sido um documento fundador do moderno movimento libertário, Lane talvez tivesse um chamado mais forte por detrás das cenas. Em 1930, Laura Ingalls Wilder, sua mãe, lhe deu um manuscrito sobre sua juventude de Wisconsin para Kansas e Dakota. Lane excluiu o material sobre Wisconsin, dedicando-se a dois rascunhos do resto, esboçando a história e seus personagens. Isto veio a se tornar um manuscrito de cem páginas provisoriamente intitulado Pioneer Girl [“Garota pioneira”], que ela enviou ao seu agente literário, Carl Brandt. O material de Wisconsin tornou-se uma história de vinte páginas, “When Grandma Was a Little Girl” [“Quando vovó era uma garotinha”], um texto possível para um livro de figuras para criança. Um editor sugeriu que a história fosse expandida para um livro destinado a jovens leitores.
Lane contou as novidades a sua mãe, e já que o manuscrito original havia sido amplamente reescrito além, ela explicou, “são as histórias do seu pai, retiradas do longo manuscrito Pioneer Girl, e conectadas, como você verá”. Lane especificou o tipo de material de que necessitava, acrescentando, “Se você achar mais fácil escrever em primeira pessoa, faça-o assim. Eu vou mudar para a terceira pessoa depois”. Lane garantiu a sua mãe que a colaboração permaneceria um segredo de família: “Eu nunca disse que tinha escrito o manuscrito na minha própria máquina de escrever”. Em 27 de maio de 1931 o livro estava terminado, e Lane enviou-o aos editores. A Harper Brothers lançou-o em 1932 como Little House in the Big Woods [“A casinha na grande floresta”], e se tornou um marco na literatura infantil.
Em janeiro de 1933, Wilder terminou o manuscrito de Farmer Boy [“Garoto fazendeiro”], sobre lembranças da infância de Almanzo. Os editores rejeitaram-no, presumivelmente por ser apenas uma crônica sobre o trabalho na fazenda. Mas Lane passou um mês transformando-o em uma história com personagens mais realistas, e a Harper Brothers comprou-o. No ano seguinte, Wilder entregou a Lane um manuscrito sobre sua vida em Kansas, e ela passou cinco semanas reescrevendo-o como Little House on the Prairie [“Casinha na pradaria”].
A série “Little House” começou a gerar renda suficiente para os Wilder, um alívio para Lane, cujo objetivo era oferecer-lhes segurança financeira. Wilder expandiu parte de Pioneer Girl em outro manuscrito e entregou-lhe a Lane em 1936. “Eu escrevi os porquês da história como eu a escrevi”, explicou Wilder. “Mas você sabe que o seu julgamento é melhor que o meu, então o que você decidir é o que valerá”. Lane passou dois meses reescrevendo-o e enviou um rascunho a seu agente literário, requisitando melhores termos para o contrato. Este se tornou On the Banks of Plum Creek [“À beira do riacho Plum”]. Lane passou a maior parte de 1939 reescrevendo o manuscrito de By the Shores of Silver Lake [“Às margens do lago Silver”]. The Long Winter [“O longo in
verno”] apareceu em 1940, Little Town on the Prairie [“Cidadezinha na pradaria”] em 1941 e These Happy Golden Years [“Os felizes anos dourados”] em 1942.
Os livros retratavam uma família muito próxima na fronteira americana durante os anos 1870 e 1880: o discretamente corajoso Pai (Charles Ingalls), que realizava uma quantidade estupenda de trabalhos, construindo casas, plantando, criando animais de fazenda e ajudando aos vizinhos; Mãe (Caroline Ingalls), que tomava conta das crianças e mantinha uma vida civilizada mesmo nas condições mais primitivas; e as crianças, Mary, Laura, Carrie e Grace. A família passou por dificuldade após dificuldade: lobos famintos, invernos brutais, índios hostis, colheitas destruídas por gafanhotos, ferozes fogos nas pradarias, escarlatina e a doença que cegou Mary. A família nunca teve muito dinheiro, mas teve uma vida maravilhosa juntos.
Pai era o grande herói das histórias. On the Banks of Plum Creek contou como, após gafanhotos terem devorado o trigo e o feno que ele havia plantado em Minnesota, ele caminhou por mais de trezentos quilômetros em direção ao leste em suas botas remendadas para conseguir dinheiro cuidando da colheita de outras pessoas. Em outra ocasião, caminhando para casa de volta da cidade, ele foi pego em meio a uma súbita nevasca e se perdeu, mas sobreviveu por três dias dentro de um buraco até que a nevasca terminasse. A qualquer hora, Pai renovava os ânimos de todos quando pegava sua rabeca e enchia a casa de música.
Os leitores podiam ver as maravilhas da imaginação criativa: “Primeiro, alguém pensou em uma ferrovia. Então alguns observadores vieram até aquele campo vazio, e marcaram e mediram uma ferrovia que não estava lá; era apenas uma estrada de ferro que alguém havia imaginado. Então os arados vieram para romper o gramado da pradaria, e as escavadeiras vieram para escavar a terra, e os caminhoneiros com seus caminhões para levá-la. E todos eles diziam que estavam trabalhando na ferrovia, mas ainda assim não havia nenhuma ferrovia lá. Não havia nada lá além de cortes nas elevações da pradaria, trechos do caminho da ferrovia que eram apenas sulcos de terra curtos e estreitos, apontando para o oeste através da terra gramada”(By the Shores of Silver Lake).
O seu individualismo se manifestava em alto e bom som: “Todos sabiam que ninguém era igual a ninguém. Você poderia medir um tecido com uma fita métrica, ou a distância em milhas, mas não poderia juntar pessoas e medi-las com nenhuma régua. Idéias e caráter não dependiam de nada a não ser da própria pessoa. Algumas pessoas não tinham aos sessenta o juízo que outras tinham aos dezesseis”(The Long Winter).
Os livros demonstraram o espírito da liberdade: “Os políticos vêm em bandos, e, dona, se existe uma peste pior que os gafanhotos são os políticos” (The Long Winter). Em Little Town on the Prairie, Rose descreveu o pensamento de sua mãe da seguinte maneira: “Americanos são livres. Isto significa que eles devem obedecer a suas próprias consciências. Nenhum rei manda no Pai; ele tem que mandar em si mesmo. Por que (ela pensava), quando eu for um pouco mais velha, Pai e Mãe não vão mais me dizer o que fazer, e não há mais ninguém com o direito de me dar ordens. Eu vou ter que ser boa”.
Extremamente leal a sua mãe, Lane não quis nenhum crédito pela série “Little House”, e sua importância não foi documentada até que o professor de inglês William Holtz produziu a biografia The Ghost in the Little House [“O fantasma na casinha”] (1993). “Em 1972”, lembra ele, “minha esposa e eu começamos a ler Little House in the Big Woods para nossas filhas. O apelo do livro foi imediato, e nós fomos atrás de outros livros de Laura Ingalls Wilder. Eles eram aquele raro feito em literatura infantil, livros para crianças que ao mesmo tempo atraíam o interesse de adultos; e nós achamos vivas e persuasivas as suas imagens sobre devoção familiar, trabalho duro e disciplinado, e luta otimista contra as adversidades. (…) Como professor de literatura, fiquei mais e mais interessado pela configuração de todo um conjunto de circunstâncias. (…) [Laura estava] em seus sessenta antes que seus livros aparecessem, e sem nenhuma distinção literária anterior a este súbito surgimento, ela passou ao imaginário como uma Grandma Moses literária, um talento natural se abrindo para a vida depois de obscuridade nas montanhas de Missouri. (…) A história contada de Laura Ingalls, da infância ao casamento, era (…) apresentada com tão alto grau de finish literário – no ritmo, no equilíbrio, na estrutura, na caracterização, nos diálogos, no impacto dramático, tudo isso confinado em um estilo e ponto de vista enganadoramente simples – como a alcançar o retrato de um personagem fictício e um mundo imaginário de poder singular. A impressão da autora Laura Ingalls Wilder como um gênio ingênuo era muito forte…”.
“Para valorizar a contribuição de Rose Wilder Lane aos livros de sua mãe, deve-se simplesmente ler os manuscritos de sua mãe e comparará-los com as versões finais. O que Rose conseguiu foi nada menos do que reescrever linha por linha narrativas trabalhadas e subdesenvolvidas”. Holtz observou que um espírito animado permeia todos os livros da série “Little House”, exceto First Four Years [“Quatro primeiros anos”] (1971), publicado postumamente, “o único livro de Laura Ingalls Wilder que não passou pela mão de Rose Wilder Lane”.
Em 1974, a NBC começou a adaptar os livros para Little House on the Prairie [“Casinha na pradaria”], uma série de televisão altamente popular que foi ao ar por nove anos. O presidente Ronald Regan afirmou que Little House era seu programa de televisão favorito. Os programas foram vistos em centenas de países e os acordos de reprodução garantiram que os programas continuarão sendo reproduzidos pelos próximos 25 anos. A Time-Life Video vende hoje os quarenta e oito programas mais populares. Michael Landon escreveu e dirigiu muitos dos programas, e estrelou como Charles Ingalls, o pai de Laura.
O último sopro de Lane foi Woman’s Day Book of American Needlework [“Livro diário feminino do bordado americano”], que transformou em um hino à liberdade. “O bordado americano fala”, escreveu ela, “que os americanos vivem em uma sociedade sem classes. Essa república é o único país que não tem um bordado camponês. (…) As mulheres americanas (…) descartaram panos de fundo, bordas e molduras. Elas fizeram com que os detalhes criassem o todo, e firmaram cada detalhe em um espaço sem limites, sozinho, independente, completo. (…) Havia rendas em todas as casas, ninguém das classes mais baixas fazia rendas para pessoas das classes mais altas. Aqueles(as) americanos eram um povo livre, imaginativo, criativo e ousado; eles gostavam de suavidade e mudança. A renda americana demonstra que eles eram o povo que iria desenvolver rápidos veleiros, navios a vapor e aviões”.
Sobre patchwork, escreveu: “lembremos, também, que ‘quando a Liberdade de sua altura montanhosa desfraldou seu estandarte ao ar’, aquele estandarte era um modelo de patchwork com treze listras, vermelhas e bancas, e um remendo azul que contava com treze estrelas e agora conta com cinquenta. Aquele estandarte foi erguido pelos pobres e famintos que haviam vindo, ou sido trazidos como gado, de todos os cantos do Velho Mundo para viver nos limites de um ambiente selvagem. Recordemos que aqui eles encontraram liberdade e lutaram para defendê-la e preservá-la, e que em liberdade eles construíram nosso país com suas mãos e seu ânimo inabalável”.
Embora Lane tenha permanecido ativa por toda sua vida – Woman’s Day mandou-a ao Vietnã como correspondente em 1965 – ela estimava muito a vida no campo em sua casa em Danbury, Connecticut. Em 29 de novembro de 1966 ela cozinhou pão para vários dias e subiu para o segundo andar de sua casa para dormir e nunca acordou. Tinha setenta e nove anos. Roger MacBride, seu amigo próximo e herdeiro literário, co-criador da séria de televisão Little House, levou suas cinzas para Mansfield, Missouri, e enterrou-as junto de sua mãe e seu pai. Na sua discreta lápide foram gravadas palavras de Thomas Paine: “Um exército de princípios penetrará onde um exército de soldados não pode penetrar. Nem o Canal da Mancha nem o Reno impedirão seu avanço. Ele marchará no horizonte do mundo e o conquistará”.
MacBride fez muito para preservar o legado de Lane. Ele autorizou uma nova edição de The Discovery of Freedom em 1972. No ano seguinte editou The Lady and the Tycoon: The Best of Letters Between Rose Wilder Lane and Jasper Crane [“A senhora e o magnata: o melhor das cartas entre Rose Wilder Lane e Jasper Crane”] (1977). Para jovens adultos, lançou Rose Wilder Lane, Her Story [“Rose Wilder Lane, sua história”], a primeira de suas história sobre como ela cresceu, e muito no estilo e no espírito da séria “Little House”. Estes foram seguidos por Little Farm in the Ozarks [“Casinha nas montanhas”] (1994) e In the Land of the Big Red Apple [“Na terra da grande maçã vermelha”] (1995). Vivendo em Miami, MacBride sofreu um ataque cardíaco fatal em 5 de março de 1995, aos sessenta e cinco anos, mas sua filha Abigail MacBride Allen supervisionou a publicação dos manuscritos não-publicados de seu pai, começando com The Other Side of the Hll [“O outro lado da colina”] (1995), Little Town in the Ozarks [“Cidadezinha nas montanhas”] (1996), New Dawn on Rocky Ridge [“Novo amanhecer em Rocky Ridge”] (1997), On the Banks of the Bayou [“Às margens do Bayou”] (1998), e Bachelor Girl [“Garota solteira”] (1999). Os livros remetem à época em que Rose tinha dezessete anos, quando ela foi em busca de seus sonhos.

* Publicado originalmente em 31/07/2009.

Sobre o Autor

Jim Powell, senior fellow do Cato Institute, é especialista na história da liberdade. Seu livro mais recente é Greatest Emancipations: How the West Abolished Slavery.

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