O PANORAMA VISTO DA SERRA

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

LOVELACE, SASHA GREY E A TRAJETÓRIA DO PRAZER NO CINEMA

De Veja Online

Quarenta anos depois do lançamento de ‘Garganta Profunda’, divisor de águas do cinema adulto, estreia a cinebiografia de sua estrela, Linda Lovelace, personagem controversa que, entre abusos e desmandos de seu marido e empresário, tornou-se a maior estrela pornô de todos os tempos. Nem Sasha Grey, com 268 filmes a mais e uma postura muito mais bem resolvida, a superou

Meire Kusumoto
 Garganta Profunda
Capa do box de 'Garganta Profunda', que reúne os dois filmes da série, lançados em 1972 e 74 (Reprodução)
Em junho de 1972, chegava aos cinemas dos Estados Unidos o filme Garganta Profunda, com uma sinopse absurda, uma atriz desconhecida e um orçamento baixo, de apenas 25 000 dólares. Em alguns anos, o enredo — sobre uma mulher cujo clitoris se encontra na garganta — se tornaria conhecido por quase todos os americanos, a atriz se converteria na maior estrela da história da indústria pornô e a arrecadação do longa alcançaria a expressiva marca de 600 milhões de dólares. Nesta sexta-feira, entrou em cartaz no Brasil Lovelace, filme que conta a história de Linda Lovelace, a protagonista de Garganta Profunda, e também a carreira do longa que seria o precursor da era de ouro do chamado cinema adulto.
LEIA TAMBÉM: Lindsay Lohan faz filme com astro pornô James Deen

Linda Boreman, seu nome verdadeiro, é interpretada por Amanda Seyfried (Os Miseráveis) na produção dirigida por Rob Epstein e Jeffrey Friedman. O filme conta a trajetória da personagem duas vezes, uma jogada interessante do roteiro que ora omite ora expõe fatos da vida da atriz. Na primeira parte, Linda é retratada como uma moça que, oprimida pela mãe, encontra a sua libertação no casamento com Chuck Traynor, protetor e, posteriormente, seu empresário na indústria pornográfica. Na segunda, vem à tona o lado obscuro da história, em que Traynor aparece como figura truculenta, que agride a esposa física e verbalmente e a ameaça de morte caso não grave o longa e não se prostitua para saldar as dívidas do marido, dono de um clube de strip-tease autuado pela polícia e consumidor contumaz de cocaína.
LEIA TAMBÉM: Atriz Lindsay Lohan perde papel principal no filme de Linda Lovelace

A parte inicial do filme foi a que o mundo viu enquanto Linda se tornava a atriz mais conhecida da indústria pornô. A última é a relatada por ela na autobiografia Ordeal, uma das quatro que escreveria. Nas duas primeiras, apoiava a pornografia, que seria atacada nas duas seguintes, caso de Ordeal, lançada em 1980, quando ela já estava divorciada de Traynor e casada com o técnico de instalação de TV a cabo Larry Marchiano, com quem teve dois filhos, Dominic e Lindsay. É também na segunda parte de Lovelace, aliás o ponto fraco do longa, por vitimar em excesso a protagonista, que Linda se volta contra a pornografia. Ela diz, por exemplo, que a sua curta passagem pela indústria – depois de Garganta Profunda, ela fez apenas mais um filme, uma sequência do longa, em 1974 – foi marcada por constrangimentos e horrores de todo tipo.

O ataque alcançaria um tom ainda mais dramático durante o seu depoimento a uma comissão de investigação da pornografia americana em 1986, encomendada pelo presidente Ronald Reagan. Linda afirma: “Quando você vê Garganta Profunda, me vê ser estuprada. É um crime que esse filme ainda seja visto. Havia uma arma apontada para a minha cabeça o tempo todo”.

A virada no tom da atriz coincide com a mudança enfrentada pela indústria pornô, que nos anos 1980, com a eclosão de doenças sexualmente transmissíveis como a aids, perde a espécie de glamour que havia conquistado na década anterior. Marcada por um estigma negativo, a indústria é até hoje povoada por atrizes que se fazem de coitadinhas, com um discurso, a la Rita Cadillac (mas não apenas no Brasil), de que atuar é uma necessidade financeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário