Postado no Globo
O governo federal encontra-se em uma situação que Marx qualifica como a alienação do poder.
Dentre outras teorias, umas frutíferas outras não, Marx desenvolve a teoria da alienação do poder.
Existe
uma relação numérica entre os que mandam e a população, relação esta
que é estrutural, numericamente definida em suas proporcionalidades e
limites, ou seja, nem todos podem mandar ou ser mandados ao mesmo tempo.
Para
justificar o poder, as elites passam então a formular ideologias que
legitimam sua presença e continuidade, em maior ou menor contraposição
aos desejos expressos pela população.
Quando ambos dominantes e
dominados aceitam tacitamente os argumentos do poder no âmbito de
acordos de benefícios recíprocos, os argumentos passam então a ser
chamados de “ideologia dominante”, como diz Gramsci.
Mas quando a
elite começa a acreditar em seus próprios argumentos de manutenção, em
franca discrepância com os anseios da população, passa então ao estado
da alienação do poder, prenúncio de sua queda por leitura equivocada da
conjuntura política.
Alienação do poder com diagnósticos
equivocados ou geração de factóides para a manutenção do poder? Ambos
ocorrem hoje no Brasil na esfera do governo federal.
Por um lado, a população demanda pelo fim da corrupção, por saúde, educação e transporte.
Por
outro lado, o governo federal oferece Constituinte específica,
plebiscito, reforma política, e médicos compelidos ao trabalho
obrigatório no SUS para a obtenção do diploma em plena afronta ao livre
arbítrio das profissões.
Importante observar que na pesquisa do
Americas’ Barometer da Universidade de Vanderbuilt, na comparação de 24
países em 2012, o Brasil somente superava o Haiti e Trinidad-Tobago na
satisfação com os serviços públicos, e somente o Haiti, Panamá e
Honduras no apoio ao sistema político.
A popularidade tácita dos 65% se desfez, despencando para os 30% atuais.
Hoje,
Dilma Rousseff apresenta rejeição de 45%, índice proibitivo para a sua
reeleição, sem tempo hábil para atender as demandas populares nestes
próximos 12 meses, e com discurso em diapasão dessincronizado com as
demandas populares.
É alto o custo das avaliações e das ações equivocadas a somente um ano das eleições.
Ricardo Guedes, Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, é Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisa Sensus.
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