Publicado por Breno Rosostolato no Alerta Total
Parafilia é um
padrão de comportamento sexual em que o prazer não se restringe a cópula mas a
total possibilidade de manifestar o desejo e a quem se destina, ou seja, o tipo
de parceiro que será alvo e ao mesmo tempo sustentará este desejo. Fetiches que
concretizam o prazer que não são socialmente aceitos, mas fazem parte da vida
das pessoas de um modo geral.
A maneira como cada
um lida com isso, se a permissão ao prazer não ultrapassa o nocivo e destrutivo
e este comportamento não se torna prejudicial ou doentio, a parafilia passa a
ser considerada apenas uma variação deste prazer. Para se tornar patológica
essa preferência deve ser de grande intensidade e exclusiva, isto é, a pessoa
não se satisfaz ou não consegue obter prazer com outras maneiras de praticar a
atividade sexual. Pode ser um comportamento perigoso, trazendo prejuízos para a
saúde ou segurança das pessoas envolvidas.
Freud afirmou que a
perversão é o negativo da neurose porque o perverso não reconhece o recalque,
mecanismo de defesa comum à neurose, além de que a busca e a concretização do
prazer é o objeto e alvo da perversão. A interdição, regras e o respeito aos
limites e principalmente à lei são ignoradas na perversão. O sentimento de
culpa serve como reparação das fantasias inconscientes vividas desde a
infância.
Exemplo disso é o
sentimento de posse que a criança possui em relação ao seu objeto de amor, a
mãe, confrontando assim o pai, processo de construção da personalidade através
do complexo de Édipo. A culpa se traduz pela necessidade de reparação, em que a
criança dirige seus esforços na tentativa de concertar tudo aquilo que foi
destruído ou atacado por seus próprios impulsos.
O neurótico, por
base em seus conflitos internos, entre os princípios de prazer e de realidade,
aquela famosa ideia de um “anjinho” e “diabinho”, representados pelas
instâncias psicanalíticas do aparelho psíquico, Ego e Id, não expressa seu
desejo como o perverso. A culpa seria um gesto de amor, a disposição a
reconstruir aquilo que fora destruído, imaginário ou real.
Para a psicanalista
Melanie Klein, as reparações que o sujeito empreende mediante sua culpa
não só restauram, em fantasia, o objeto lesado, mas também a si mesmo. A
ausência de culpa caracterizaria uma estrutura perversa, em que a realidade
reconhecida é recusada por conter limitações, regras e leis sociais
normatizadoras.
Cada vez mais o sexo adquire uma percepção e uma aceitação maior na sociedade, diminuindo a censura ao prazer e possibilitando mais os comportamentos sexuais, escolhas e condutas. O que antes era inaceitável, diante de mentalidades e desmistificações de conceitos deturpados e arcaicos, o próprio conceito de parafilia, em alguns casos, deve ser revisto, sendo considerado apenas como uma expressão do prazer.
A agorafilia e a
agrofilia são desejos da prática do coito em lugares abertos ou ao ar livre,
sendo que a agrofilia é o mesmo prazer, só que em campos, bosques e no mato. Já
ouviram histórias de pessoas que revelam o desejo em fazer sexo na praia ou
numa cachoeira? Já a amaurofilia refere-se àquelas pessoas que são excitadas
por um parceiro sexual que não é capaz de vê-los. A venda nos olhos é um
recurso de surpreender o outro e assim, estimular o sexo através da percepção.
Um fetiche bastante
curioso e mais comum do que imaginamos é ocisvestismo erótico ou fetichismo
transvéstico. Consiste no prazer em se fantasiar para o sexo. Considerado
como uma manifestação de prazer e do desejo, o cisvestismo é uma parafilia, um
fetiche que consiste em homens heterossexuais a usarem peças íntimas femininas
como calcinha, cinta-liga, sutiã, meia calça, etc.
Uma manifestação
erótica, o cisvestismo pode acontecer para apimentar a relação sexual ou o uso
pode ser frequente, mas ainda assim, um fetiche. Os homens podem usá-las na
intimidade para se masturbar num momento de autoerotismo. Vale lembrar que
criaram a cueca feminina, peça íntima adotada com naturalidade pelas mulheres.
Sem a conotação de
um fetiche, a cueca feminina agradou e muitas mulheres ressaltaram o conforto
delas. Recentemente uma empresa australiana lançou no International
Fashion Show, realizado em Las Vegas (EUA), um conjunto de lingerie, um tanto
atrevido, exclusivamente para o público masculino.
Outra parafilia é a
necrofilia, pratica de fazer sexo com um cadáver. A prática sexual
estranha é alvo de uma lei muito polêmica no Egito. De acordo com o Al
Arabiya News, o parlamento egípcio deve votar sobre uma lei que permitirá que
os maridos tenham relações sexuais com suas esposas até 6 horas após o seu
falecimento. O projeto, introduzido por radicais islâmicos, surgiu em maio do
ano passado, quando Zamzami Abdul Bari, um líder religioso, afirmou que o
matrimônio continua válido mesmo após a morte.
A própria
necrofilia não é algo novo, praticada por algumas tribos africanas e
considerada um gesto sagrado. Difícil interpretar as intenções de uma pessoa
que pratica esta parafilia, mas o prazer está relacionado, primeiro, a se
relacionar com a morte. O fascínio em se deparar com a morte e sentir-se imune
a ela. Em segundo lugar, uma questão de dominar o corpo do outro sem nenhuma
reação contrária e, por último, uma questão de vencer a morte. Dominar e
superá-la.
Em ambos os casos citados, tanto no cisvestismo erótico como na necrofilia, a tentativa de normalizar esses fetiches parece acompanhar o domínio do prazer nas mentalidades contemporâneas. A escravidão ao orgasmo, que não deveria ser encarado como uma obrigação, conduz desejos afoitos e descontrolados. Descontrole esse que se observa numa parafilia em que sua prática resulta em cerca de 600 mortes por ano, a asfixiofilia ou asfixia autoerótica.
A prática
sexual consiste em reduzir intencionalmente a emissão de oxigênio para o
cérebro durante uma estimulação sexual (masturbação) com o intuito de aumentar
o prazer no orgasmo. Exemplo mais conhecido desse fetiche foi o ator
americano David Carradine, 72 anos, encontrado enforcado em seu quarto de hotel
em Bangcoc. De acordo com os policiais, uma corda estava presa em torno do seu
pescoço e outra em seu órgão sexual. As duas estavam ligadas uma à outra e
penduradas no armário. O quadro descrito sugere a prática de autoasfixia
erótica.
As parafilias devem
ser estudadas com mais atenção e práticas assim necessitam de cuidados e
atenção redobrada, uma vez que o preço pago, algumas vezes, para se obter
prazer é questionável e sacrificante. Pessoas morrem por causa de práticas
parafílicas e é preciso entender melhor sobre estas atividades sexuais.
Breno Rosostolato é
psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM.
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