É
uma denúncia da maior importância, que está rolando na internet. Há um
sem número de órgãos públicos – federais, estaduais e municipais –
teoricamente dedicados a cuidar do assunto. Estruturas organizacionais
paquidérmicas, chefes, chefetes, muito cacique e pouco índio.
Desperdícios de $$$$ e tempo. Resultados pífios ou menos do que pífios. É
mais uma vergonha nacional.
Gilbués, no Piauí
A área degradada ou em alto risco de degradação é maior do que o estado do Ceará. Hoje, o Ministério do Meio Ambiente reconhece quatro núcleos de desertificação no semiárido brasileiro. Somados, os núcleos de Irauçuba (CE), Gilbués (PI), Seridó (RN e PB) e Cabrobó (PE) atingem 18.177 km² e afetam 399 mil pessoas.
Num artigo
assinado por cinco pesquisadores do Instituto Nacional do Semiárido
(Insa), do Ministério da Ciência e Tecnologia, são listados seis
núcleos, o que aumenta a área em estado mais avançado de desertificação
para 55.236 km², afetando 750 mil brasileiros.
Os dois núcleos
identificados pelos pesquisadores do Insa são o do Sertão do São
Francisco, na Bahia, e o do Cariris Velhos, na Paraíba, estado que tem
54,88% de seu território classificado em alto nível de desertificação.
Trata-se de um
prolongamento que une o núcleo do Seridó à microrregião de Patos,
passando pela dos Cariris Velhos. Apenas na microrregião de Patos,
74,99% das terras estão em alto nível de desertificação, segundo dados
do Programa Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos
da Seca da Paraíba.
“A degradação
do solo é um processo silencioso” — afirma Humberto Barbosa, professor
do Instituto de Ciências Atmosféricas e coordenador do Lapis,
responsável pelo estudo. — “No monitoramento por satélite fica evidente
que as áreas onde o solo e a vegetação não respondem mais às chuvas
estão mais extensas.
Em condições
normais, a vegetação da Caatinga brota entre 11 e 15 dias depois da
chuva. Nestas áreas, não importa o quanto chova, a vegetação não
responde, não brota mais”.
ATÉ PETROLINA…
Estão em áreas
mapeadas como críticas de desertificação municípios como Petrolina, em
Pernambuco, que tem mais de 290 mil habitantes, e Paulo Afonso, na
Bahia, com 108 mil moradores. Barbosa explica que a desertificação é um
processo longo e a seca agrava a situação. Segundo ele, em alguns casos,
a situação é difícil de reverter.
Na Bahia, numa
extensão de 300 mil km² no Sertão do São Francisco, os solos já não
conseguem reter água. Na região de Rodelas, no Norte do estado,
formou-se, a partir dos anos 80, o deserto de Surubabel.
Numa área de 4
km², ergueram-se dunas de até 5 metros de altura. Segundo pesquisadores,
a área foi abandonada depois da criação da barragem da hidrelétrica de
Itaparica, usada para o pastoreio indiscriminado de caprinos e, por fim,
desmatada.
O solo virou areia. O rio, que era estreito, ficou largo, e o grande espelho d’água deixou caminho livre para o vento.
“Não existe
dúvida de que o processo de degradação ambiental é grave e continua
aumentando” — desabafa Aldrin Martin Perez, coordenador de pesquisas do
Insa. — “A população aumentou, o consumo aumentou. Há consequências
políticas, sociais e ambientais. Se falassem do problema de um banco,
todos estariam unidos para salvá-lo. Como não é, não estão nem aí”.
No Sul do
Piauí, onde fica o núcleo de Gilbués, são 15 os municípios atingidos.
Nos sete em situação mais grave, segundo dados do governo do estado, a
desertificação atinge 45% do território de cada um.
Em Gilbués, uma
fazenda modelo implantada pelo governo do estado conseguiu recuperar o
solo e fazer florescer milho. Todos os anos se comemora ali a festa do
milho, mas a experiência de recuperação é limitada. Hoje, 10,95% das
terras do Sul do estado apresentam graus variados de desertificação.
Em Alagoas,
estudos apontam que 62% dos municípios apresentam áreas em processo de
desertificação, sendo os níveis mais graves registrados nos municípios
de Ouro Branco, Maravilha, Inhapi, Senador Rui Palmeira, Carneiros,
Pariconha, Água Branca e Delmiro Gouveia.
A cobertura
florestal do estado é tão baixa que Francisco Campello, responsável pelo
programa de combate à desertificação do Ministério do Meio Ambiente,
chegou a dizer que, se fosse uma propriedade, Alagoas não teria os 20%
de reserva legal.
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