Por Milton Pires
Certa vez escrevi que quando uma
determinada teoria provoca uma revolução muito grande numa área do conhecimento humano, a primeira coisa
que acontece é escapar do seu campo original e “ocupar” (já que o termo está na
moda) outros. Convido vocês a imaginarem a história da Medicina, da Arte ou do
Direito... Enfim, quem sabe até da própria Ciência e da Filosofia como
estradas.
Essas estradas podem não ter fim,
mas certamente tiveram um início. Fica fácil, para qualquer um, entender se alguém está avançando ou
retornando no tempo, né? Pois bem, pergunto agora – e se ao invés de nos
preocuparmos com o comprimento da estrada nós pensássemos na sua “largura”??
Começo assim esse pequeno artigo
sobre a chamada “transversalidade” - expressão adorada por certos expoentes da
“Unidiversidade” Brasileira. Duvido muito que exista, em toda história do
pensamento contemporâneo duas doutrinas que tenham provocado um impacto tão
grande na cultura ocidental quanto o marxismo e a psicanálise.
Não vou me estender aqui sobre o
que poderia haver de comum na origem delas. Teríamos que falar sobre Nietzsche,
e aí o texto perderia o seu sentido. Não pretendo também discorrer sobre a
psicanálise - é sobre marxismo, meus
amigos, que vamos escrever agora.
Recentemente foi divulgada na
internet a informação (pouco me importa se verdadeira ou falsa) de que o
Ministério da Educação e Cultura (MEC) teria iniciado uma campanha estimulando
as adolescentes brasileiras a praticarem sexo oral com seus namorados afim de
evitar a gravidez não desejada. Pois bem, Milton, e o que isso “tem a ver” com
teu artigo??
Tem “a ver” da seguinte maneira:
essa notícia provoca no leitor uma reação emocional. Essa reação está vinculada
ao terreno da moralidade. As pessoas vão gostar da ideia e estimulá-la
(considerando a proposta moral) ou vão
se revoltar e dizer claramente que trata-se de algo imoral. Ora, meus amigos,
está na restrição a essas duas opções a evidência de um erro extremamente
perigoso quando tratamos de pensar sobre o movimento revolucionário.
Não é preciso investir tempo no
estudo de Antônio Gramsci para entender como o marxismo, desde os seus
primórdios, opera dentro do campo da moralidade. Sabem como ele opera?? Ele NÃO
opera! Isso mesmo, leitores, o marxismo não é uma doutrina moral e muito menos
imoral - ele é AMORAL! Existe na troca
da letra “i” pela “a” uma mudança total de significado.
Se não; vejamos. Todo movimento
revolucionário da esquerda sustenta que a história tem regras próprias que
podem ser estudadas cientificamente, que a base formadora da sociedade é
econômica e que é a luta entre as classes que faz com que ela “vá pra frente”.
Decorre que dessa definição, que mudou toda história do pensamento a partir do
século XIX, a idéia de que a cultura e os seus valores – principalmente os
morais – são mera consequência de uma relação de trabalho.
Destruindo-se a
relação de trabalho, destrói-se a moralidade. Toda genialidade de Gramsci foi
compreender que poderia se operar de maneira inversa e destruir a cultura para
mudar o modo de produção. O que os dois métodos tem em comum é o fanatismo
revolucionário. Vejam que não há, em nenhuma das hipóteses, lugar para
sobrevivência de uma moral considerada “arcaica”.
Pois bem, já vimos o tamanho do
impacto do marxismo na estrada do pensamento. Ele mudou muito mais a “largura”
do que o “comprimento” do caminho, não é? Tornou-se uma espécie de “pensamento
transversal” capaz de invadir outras áreas do conhecimento provocando nelas uma
revolução muitas vezes maior do que a do seu campo original e concluímos que
não há espaço para moralidade na revolução.
Talvez tendo isso em mente seja
mais fácil se livrar da impressão de “esquizofrenia” petista. “Como podem,
Milton, os petralhas dar dinheiro para que as mulheres mostrem seus corpos na
Marcha das Vadias e ao mesmo tempo apoiar regimes em que elas andam de
burka??” Quem leu o texto até aqui já
sabe a resposta – Por que isso não tem o menor significado dentro do processo
revolucionário, gente! A proposta de discussão do tema como “paradoxo” não faz
sentido algum na cabeça de um marxista.
Lembrem sempre disso quando
usarem “padrões morais” para avaliar se aquilo que o PT faz é certo ou
errado..essa discussão não existe. Estudem por exemplo Mao Tse Tung (Do Manejo
Correto das Contradições no Seio do Povo) e verão que é “bom ou correto” aquilo
que serve ao partido e a revolução ...Todo, prestem bem atenção, TODO o resto
não faz a mínima diferença..
Talvez um dia os brasileiros
saiam às ruas perplexos e assistindo duas passeatas ao mesmo tempo...uma delas
pedindo para as meninas “praticarem sexo oral” e outra sugerindo que se “casem
virgens”. As duas vão estar sendo financiadas pelo mesmo Partido..As duas vão
servir para esse Partido desviar dinheiro público..e entre elas não vai haver
“contradição” alguma. O Brasil finalmente vai ter adotado completamente outro
tipo de “pensamento” - um Pensamento Transversal.
Porto Alegre, 19 de julho de 2013 AVC (antes da vinda dos cubanos)
Milton Simon Pires é Médico.
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