| 09 Setembro 2013
"Talvez um dia você se arrependa destas perguntas", disse Olavo de Carvalho, filósofo brasileiro e colunista do Diário do Comércio à
repórter depois que, segundo ele, ela o teria confundido com Nelson
Rodrigues, "que tinha birra da juventude como tal". Olavo acaba de
lançar o livro O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota,
da editora Record, e, logo nas primeiras páginas das 592, entre
diversos artigos publicados em revistas e jornais do País – inclusive
no DC –
o autor fala sobre "o imbecil juvenil" e a "geração perdida" que, ao
seu ver, sempre foram o reduto dos movimentos políticos mais violentos e
destrutivos . "Eles colheram na juventude o grosso da sua militância".
Com 25 capítulos, entre eles Juventude, Revolução, Pobreza, Gayzismo e Conhecimento,
o livro, já na segunda folheada, lança a aquele que não quer ser um
idiota um aviso: "Se você não é capaz de tirar de um livro consequências
válidas para sua orientação moral no mundo, você não está pronto para
ler este livro".
Hoje,
Olavo mora nos Estados Unidos, no estado da Virgínia. Por seu
"extraordinário trabalho" como pensador, segundo o The Inter-American
Institute, o brasileiro ganhou o Green Card em março de 2010, no governo
Obama. Ao DC,
o ele falou não só sobre o porquê de seu livro estar entre os mais
vendidos da lista da revista Veja – "mas em primeiro na Amazon e em
quarto no Globo" – mas também sobre tentativas do governo federal, por
meio dos protestos do movimento Passe Livre, de desestabilizar o governo
do Estado de São Paulo com uso de gente treinada em guerrilha urbana
para produzir violência e culpar o que chamou de "direita". E, aliviando
o lado dos idiotas que, segundo ele, deixariam um espaço de duas dúzias
para os não idiotas, Olavo explica que idiotice e inteligência não são
"qualidades estáticas grudadas de uma vez para sempre numa pessoa". E é
aí que entra a utilidade de seu livro.
DC
– O senhor fala em "imbecil jovem", que está sempre um passo à frente
do pior, e que é, dos reacionários, o maior. O que dizer do movimento
Passe Livre, liderado por jovens, e que conseguiu, por protestos, não
aumentar o preço da passagem do transporte em São Paulo?
Olavo de Carvalho – Eu
não disse que os jovens são os maiores reacionários, mas que todos os
movimentos políticos mais violentos e destrutivos, sejam revolucionários
ou reacionários, colheram na juventude o grosso da sua militância.
Quanto ao preço das passagens, foi o mero pretexto encontrado pelo
governo federal para tentar desestabilizar o governo de São Paulo com
uma encenação de protesto popular, usando até mesmo gente treinada em
guerrilha urbana para produzir violência e depois jogar a culpa na
"direita". Aconteceu que a coisa escapou do controle quando o movimento
se espalhou por todo o País e uma vasta massa hostil ao petismo ocupou
mais espaço nas ruas do que a militância teleguiada que havia começado
as manifestações, e então o PT deu marcha-ré, mandando seus
empregadinhos voltarem para casa.
DC–
O senhor fala em seu livro que a revolta do jovem contra os pais é uma
revolta fácil, porque o seu grupo social aceita e lhe exige isso. Hoje,
tendo em vista os jovens protestando contra os políticos, pode-se
entender que eles trocaram a revolta contra os pais pela revolta
política?
Olavo de Carvalho – No
exemplo que dei no 1º capítulo do meu livro, o jovem se rebela contra a
autoridade dos pais porque se curva às imposições muito mais pesadas do
seu grupo de referência, a massa dos seus coetâneos, não raro guiada
por líderes muito mais tirânicos do que qualquer pai ou mãe jamais
poderia ser. Eu mesmo observei isso quando era militante de esquerda.
Dos dirigentes, os meninos aceitavam ordens humilhantes que jamais
aceitariam dos pais ou da Igreja. A revolta em estado puro, solitária e
independente, que obedece apenas à própria consciência, sem respaldo num
poder dirigente, é coisa rara. Em geral os heróis verdadeiros só se
tornam conhecidos na velhice ou depois de mortos. Os falsos já são
badalados desde a juventude e a badalação é um componente essencial da
sua simulação de heroísmo.
DC – É fácil se revoltar contra a política?
Olavo de Carvalho – Facílimo,
quando se tem pelas costas alguma organização bilionária e armada até
os dentes, como a KGB, o Foro de São Paulo, a ONU, as fundações
globalistas ou o governo cubano. Dificílimo, quando tudo o que se tem é a
força do coração humano e a fé em Deus.
DC
– Seu novo livro aparece em 4º lugar na lista dos "Mais Vendidos", na
categoria "Não-Ficção", na Veja da semana passada. Isso lhe parece que
existem mais idiotas ou mais inteligentes do que o senhor imaginava?
Olavo de Carvalho – Está em quarto na lista de Veja,
mas chegou ao primeiro lugar na Amazon e ao quarto lugar no Globo.
Idiotice e inteligência não são qualidades estáticas grudadas de uma vez
para sempre numa pessoa. Se não houvesse a possibilidade de transitar
de um desses estados ou outro, nem o meu livro poderia ter sido escrito
nem haveria utilidade nenhuma em escrevê-lo.
DC
– Poderia citar cinco coisas que o senhor diria para um filho seu de
mais ou menos 18 anos (que por um acidente do destino acabou de
conhecer) para ele não se tornar um idiota...
Olavo de Carvalho –Se
eu acabasse de conhecer o meu filho naquele momento, não creio que
teria autoridade alguma para lhe dar conselho nenhum. Provavelmente eu
diria apenas "oi".
DC
– O senhor se arrepende de alguma ideia que já tenha escrito? Ou ideal
que tenha praticado ao longo de sua vida? Já se considerou um idiota?
Olavo de Carvalho –
Com certeza. Minha vida pode ser resumida no título – embora não
necessariamente no conteúdo – daquela peça do Plínio Marcos, "A longa
jornada de um imbecil até o entendimento". Goethe dizia: "Contra nada
somos mais severos do que contra os erros que abandonamos". Se eu não
tivesse me contaminado de várias imbecilidades de grande sucesso na
nossa cultura, se não as conhecesse por dentro, não teria cacife para
falar contra elas. Talvez um dia você se arrependa destas perguntas.
DC
– Seriam suas ideias, textos ácidos e polêmicos os motivos pelos quais
os Estados Unidos deram ao senhor o Green Card muito mais facilmente do
que se dá a qualquer outra pessoa?
Olavo de Carvalho – Você
está insinuando um favorecimento ideológico? Você acha mesmo que o
governo americano é favorável às minhas ideias? Nunca ouviu falar em
Barack Hussein Obama?
DC
– O jornalista Reinaldo Azevedo, publicou um post em seu blog
comentando que este seu novo livro "O mínimo que você precisa saber
para não ser um idiota" provoca o silêncio. A quem, ou a quê , o
senhor atribui este silêncio?
Olavo de Carvalho – É
o silêncio dos cretinos que não têm resposta, que ficam desorientados e
intimidados ante uma argumentação que transcende o seu horizonte de
consciência, e então preferem fazer de conta que não ouviram nada.
Muitos professores e líderes intelectuais da esquerda nacional reagem
assim mesmo: ficam quietinhos no seu canto e mandam seus alunos passarem
vergonha em seu lugar escrevendo idiotices contra mim, que se
autodesmoralizam no ato mesmo da publicação.
Dá-se para contar nos dedos os não idiotas? Quantos dedos precisaríamos?
Olavo de Carvalho – Na grande mídia e nas cátedras universitárias, creio que chegam quase a duas dúzias. Talvez isso seja excesso de otimismo.
DC
– Felipe Moura Brasil, organizador deste livro, é bem jovem. Por que
a escolha dele, tendo em vista o seu posicionamento de "juventude
imbecil"? Por que um rapaz tão jovem para compilar suas colunas e
ideias?
Olavo de Carvalho – Não
escolhi ninguém. A ideia foi dele e ele a realizou como quis, aliás com
muito brilho e destreza. Não dei o menor palpite. E é evidente que todo
o meu trabalho visa justamente a salvar da imbecilização ao menos uma
pequena parcela da juventude brasileira, o que subendente que ninguém é
imbecil por ser jovem, mas porque alguém mais velho se aproveitou da sua
inexperiência juvenil para imbecilizá-lo. Você está me confundindo com o
Nelson Rodrigues, que tinha birra da juventude enquanto tal.
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