Na Bahia, extremistas decidem escorraçar mais dois “cachorros” de uma feira de livros.
Por Reinaldo Azevedo
O
mesmo exemplar da Folha que traz a coluna em que Suzana Singer me chama
de cachorro — um rottweiler — traz a notícia de que dois colunistas do
jornal foram impedidos de falar em duas mesas da Flica (Festa Literária
Internacional de Cachoeira), na Bahia. Reproduzirei o texto mais abaixo.
Vocês verão as boçalidades de que foram acusados Demétrio Magnoli e
Luiz Felipe Pondé. Essas coisas não acontecem por acaso.
O
linchamento virtual dos últimos quatro dias — desde que a Folha anunciou
os “novos colunistas”—, promovido por sites e blogs financiadas por
estatais e pelo governo Dilma, tem, sim, consequências. Serve como um
convite a extremistas. São os black blocs da… feira de livros!
Leiam o que informa a Folha. Volto depois:
Uma manifestação de cerca de 30 estudantes interrompeu ontem duas mesas na Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira), na Bahia. O protesto pedia o cancelamento de debates com o sociólogo Demétrio Magnoli e o filósofo Luiz Felipe Pondé, colunistas da Folha. A organização da Flica cancelou as mesas para garantir a segurança dos convidados. A mesa “Donos da Terra? – Os Neoíndios, Velhos Bons Selvagens”, da qual participavam Magnoli e a historiadora Maria Hilda Baqueiro Paraíso, foi interrompida 20 minutos após o início do debate, que havia começado às 10h (no horário da Bahia, que não adere ao horário de verão).
Uma manifestação de cerca de 30 estudantes interrompeu ontem duas mesas na Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira), na Bahia. O protesto pedia o cancelamento de debates com o sociólogo Demétrio Magnoli e o filósofo Luiz Felipe Pondé, colunistas da Folha. A organização da Flica cancelou as mesas para garantir a segurança dos convidados. A mesa “Donos da Terra? – Os Neoíndios, Velhos Bons Selvagens”, da qual participavam Magnoli e a historiadora Maria Hilda Baqueiro Paraíso, foi interrompida 20 minutos após o início do debate, que havia começado às 10h (no horário da Bahia, que não adere ao horário de verão).
Segundo
Emanuel Mirdad, um dos organizadores da Flica, os alunos, que estavam
sentados assistindo ao debate, gritaram palavras de ordem contra
Magnoli, a quem chamaram de racista. O protesto seguiu com alunos se
despindo. Outros estudantes jogaram uma cabeça de porco no palco. “Eu
sou um antirracista e é por isso que sou contra as cotas. Os grupos, a
fim de não discutir argumentos sobre cotas, preferem lançar impropérios.
Eles não se limitam a fazer isso. Eles depredam o debate”, afirma
Magnoli.
A
organização do festival deslocou seguranças para proteger Magnoli, que
se recusou a deixar o palco. Para encerrar a manifestação, os alunos
exigiram o cancelamento da mesa em que Pondé participaria, às 20h (hora
local) e a divulgação de um manifesto. Com a participação de Pondé e do
sociólogo francês Jean-Claude Kaufmann, a mesa, de nome “As Imposições
do Amor ao Indivíduo”, discutiria o tema do amor. A organização do
festival permitiu que os estudantes lessem a nota no palco. O evento
decidiu cancelar também a mesa com Pondé, que ocorreria à noite.
“[A
acusação de racismo] É uma coisa idiota. Quem me lê sabe que eu nunca
escrevi nada desse tipo. Isso revela a estupidez do movimento deles e o
caráter totalitário e difamatório”, afirma Pondé. “Eu acho errado cota
baseado em raça, seja lá qual raça for. O que devia existir é uma escola
pública decente, mas dizer que é racismo é mau-caratismo.” Era o quarto
dia do festival, previsto para terminar hoje. A reportagem não
conseguiu localizar representantes do grupo de alunos antes da conclusão
desta edição.
Voltei
Vejam aí. Bastaram 30 truculentos para impedir duas mesas-redondas, dois debates. Como negar que conseguiram seu intento? Tiveram divulgado o seu “manifesto” e silenciaram, ao menos naquele ambiente, duas vozes de que discordam.
Vejam aí. Bastaram 30 truculentos para impedir duas mesas-redondas, dois debates. Como negar que conseguiram seu intento? Tiveram divulgado o seu “manifesto” e silenciaram, ao menos naquele ambiente, duas vozes de que discordam.
Eis o espírito destes dias: não argumente, quebre; não tolere a divergência, dê porrada.
Quando me
chama de cachorro, é a essa gente que Suzana Singer dá uma piscadela de
cumplicidade. Ela diz que sou “feroz” e publica um comentário de alguém
que afirma que estimulo o ódio. O que se narra acima são cenas
inequívocas de amor.
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