Artigo de Jorge Serrão no Alerta Total em 29 de dezembro de 2006
A atual
onda de violência e terror que se abate sobre o Rio de Janeiro, a
exemplo da promovida em maio deste ano na Grande São Paulo, é um mero
exercício tático do governo do crime organizado. Trata-se de um ensaio
de demonstração de força das futuras ações para-militares para a tomada
ou a consolidação de um movimento revolucionário de conquista do poder. O
objetivo estratégico do “terrorismo marginal”, que tem facetas
ideológicas, é gerar medo e tensão, no primeiro momento, para
justificar, em etapas posteriores, ações autoritárias ou as medidas de
força da nova ordem estatal que se planeja implantar no Brasil. Os
bandidos mais visíveis, que realizam as violentas badernas, são meros
instrumentos de “bandidos maiores”, com poder político
e, sobretudo, econômico que pretendem subjugar a sociedade brasileira,
para continuar explorando-a historicamente.
O Crime Organizado exerce o Poder Real
no Brasil. Governo do Crime Organizado é conceituado como “a perversa
associação, para fins delitivos, entre membros dos três poderes da
República, os criminosos de toda espécie, a classe política, e o sistema
financeiro”. Grupos de Bandidos não agem por acaso, isoladamente ou sem
“ordens superiores”. Dependem do apoio ou da
conivência do Estado. Quem não entender este conceito jamais conseguirá
compreender o que realmente acontece hoje no Brasil. Quando a sociedade
não entende o que realmente se passa, não reage, se amedronta e fica
refém da estratégia da “bandidagem politicamente organizada”. Mas quando
se domina o conceito correto, o quadro exige uma reação de quem tem o
dever de defender a Democracia, que é a Segurança do Direito, contra o
terrorismo.
O papel constitucional de combater a atual onda de
terrorismo é das Forças Armadas – amadas ou não. O Exército, a Marinha e
a Aeronáutica têm o dever legal de intervir imediatamente. Só precisam
ter clareza de que o verdadeiro inimigo interno obedece a interesses
externos, claramente alienígenas. O conceito é claro e está bem exposto
na monografia, posta à disposição do Ministério da Defesa, com o título:
“Como Desestimular a Ação do Terrorismo Internacional no Brasil”. Só
não lerá o chefe militar que não quiser, for omisso, conivente ou tiver
medo de enfrentar o inimigo real. O Alerta Total recomenda aos militares a leitura do citado trabalho e também do nosso texto Os artigos 142 contra os “171”, aqui publicado em 17 de setembro de 2006.
O
trabalho produzido por um grupo de estudos define a conjuntura atual de
terror com precisão cirúrgica. “Terrorismo é a ação ou omissão, típica e
antijurídica, levada a efeito com o fim precípuo de causar medo, terror
ou intimidação na população, como forma de compelir a administração
pública direta, indireta, as autarquias ou organismos internacionais a
fazer ou deixar de fazer alguma ação ou atender reivindicação, ainda que
justa”. Em resumo, Terrorismo é medo, para produzir três tipos de
vítimas. A Vítima Tática (o morto, o ferido ou o seqüestrado), a Vítima
Estratégica (aquela que sobrevive ao atentado, e está sob risco) e a
Vítima Política (que são o Estado e a Democracia, aqui entendida como a Segurança do Direito).
O
Brasil não pode ser ameaçado pelo governo do crime organizado. Os
militares, que fazem parte do poder armado do Estado, sabem muito bem
disto. A defesa da Pátria é um dever supra-constitucional. E este dever é
das nossas Forças Armadas. Mas alguns militares fingem ignorar isto. O
Exército, a Marinha e a Força Aérea servem para garantir a defesa da
Pátria contra qualquer ação (interna ou externa) que submeta risco à
Soberania Nacional. A regra é clara. A Doutrina também. A defesa é a
ação efetiva para se obter ou manter o grau de segurança desejado. A
segurança é a condição em que o Estado, a sociedade e os indivíduos não
se sentem expostos a riscos ou ameaças objetivas.
Qualquer
militar aprendeu na escola que a Política de Defesa Nacional trabalha
com dois conceitos básicos. A Segurança é a condição que permite ao País
a preservação da soberania e da integridade territorial, a realização
dos seus interesses nacionais, livre de pressões e ameaças de qualquer
natureza, e a garantia aos cidadãos do exercício dos direitos e deveres
constitucionais. A Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações do
Estado, com ênfase na expressão militar, para a defesa do território, da
soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente
externas, potenciais ou manifestas.
A doutrina também vale para
ameaças internas, principalmente se elas forem oriundas de forças
externas. Com base na Constituição Federal e em prol da Defesa Nacional,
as Forças Armadas poderão ser empregadas contra ameaças internas,
visando à preservação do exercício da soberania do Estado e à
indissolubilidade da unidade federativa. O artigo de nossa Lei Maior que
define a destinação das Forças Armadas se subordina à sua Missão
Institucional – e não o contrário, como preferem alguns comodistas
intérpretes do Direito Constitucional.
O artigo 142 da
Constituição Federal é cristalino e fácil de ser lido por quem não seja
um “analfabeto político”: “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha,
pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
A
existência do Brasil, como País independente e soberano, depende,
diretamente, do cumprimento incondicional do dever de “defesa da
pátria”. Tal obrigação não está sujeita a qualquer restrição imposta por
quaisquer dos três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
Além disso, é uma obrigação supra-constitucional, pois a segurança da
Lei Maior depende do estrito cumprimento dessa missão das Forças
Armadas. Por isso, as Forças Armadas têm a obrigação constitucional de
zelar pela “Segurança do Direito”, que é o verdadeiro conceito de
Democracia. O resto é conversa fiada.
Trata-se de um mero
detalhe, embora não pareça, o fato de traficantes fecharem ruas,
praticarem ações táticas de guerrilha urbana e colocarem Rio de Janeiro
em estado de sítio – a exemplo do que já ocorreu com São Paulo, em maio.
O terror e o caos são uma mera preparação para o quadro de “revolução”
que se desenha na América Latina. Sem entrar em detalhes deste processo -
evidente e anunciado publicamente pelos seus próprios agentes
políticos, é preciso que fique clara, antes, a resposta a uma pergunta
fundamental: “A quem realmente interessa tudo isto que acontece agora?”.
Quem está realmente por trás da onda de terror aparentemente praticada
por “bandidos de favela”? Ou melhor: Quem está por trás desses bandidos?
A resposta é: o Governo do Crime Organizado, que obedece a quem
realmente controla, lá de fora, o destino da política e da economia do
Brasil. Os bandidos daqui de dentro, os “pé-rapados” e os mais cultos e
ocultos, obedecem e são agentes conscientes ou inconscientes de um mesmo
controlador.
Como os verdadeiros controladores das ações de
terror estão bem longe e aparentemente protegidos, as Forças Armadas
precisam eleger para atacar, de imediato, outros alvos bem objetivos.
Tal ataque, antes que seja praticado pela via das armas, precisa ser
planejado e executado pela inteligência. No Rio de Janeiro,
especificamente, o tráfico de drogas tem “acordos”
ocultos com a classe política. Os bandidos garantem votos nas áreas
carentes, em troca de um “armistício informal”: o governo e a Polícia
fingem que combatem os “parceiros bandidos”. Tudo é uma grande farsa. Na
verdade, o aparelho repressivo do Estado, seus comandantes e os
políticos (que mandam neles) são bem remunerados pela corrupção. Os
bandidos ganham, a sociedade perde e ninguém tem razão...
O
“tráfico” (que é apenas o aspecto fora da lei do Governo do Crime
Organizado) promove variadas atividades mercantis: o tráfico, a
produção, a distribuição e a venda de drogas propriamente dita; o
tráfico, transporte e aluguel de armas (em regime de dellivery);
atividades marginais como o controle do chamado “transporte alternativo”
e vans e kombis (também usadas na infraestrutura de entrega de armas e
deslocamento de soldados do tráfico), a prostituição (negócio em que os
bandidos têm sociedade com policiais), a jogatina ilegal (onde a mesma
pareceria se repete); e o controle e gestão de um processo de corrupção
policial e do Judiciário que faz inveja as máfias mais sofisticadas do
planeta.
Curiosamente, até hoje, pouco se fez para combater as
fontes de financiamento do tráfico. O dinheiro que o tráfico de drogas e
armas utiliza tem de passar pelo sistema financeiro. Não tem outro
jeito, pelo volume envolvido. Por que nenhum banco é identificado e
punido por conivência com a bandidagem? O que faz o COAF que não
identifica os “marginais” que movimentam tanto dinheiro para financiar o
Governo do Crime Organizado? Por que não se promove um
combate efetivo a um pouco citado sistema de “investimento” do tráfico
de drogas e armas, em que os “investidores” (ricos e famosos do asfalto)
são remunerados pelos lucros obtidos na compra, venda, aluguel e até
leasing de lotes de drogas e armas? Por que o Ministério Público só age
com “rigor seletivo”, alvejando os bandidos que interessam ao poder
vigente do crime, mas deixando outros de fora da repressão, livres para
agir?
São perguntas demais sem respostas objetivas... No caso
específico do Rio de Janeiro, um outro fato muito grave deveria chamar a
atenção dos serviços de inteligência das Forças Armadas. Tratam-se das
milícias formadas por policiais, bombeiros e ex-policiais têm se
expandido rapidamente pelas favelas do Rio. Oficialmente, elas têm sua
existência ignorada por autoridades do Estado. Mas existem. São reais.
Elas expulsam traficantes, assumem a segurança, exploram serviços
clandestinos, promovem o assistencialismo e cobram taxas dos moradores.
Quem não paga é ameaçado. Nos últimos anos, o número de favelas do Rio
controladas por grupos paramilitares mais do que dobrou, passando de 42
para 92 – de acordo com informações de pesquisadores acadêmicos da
Insegurança Pública carioca.
Os grupos paramilitares se organizam
do lado de fora da favela e invadem a área, destituindo os traficantes
do poder. As milícias paramilitares promovem atividades paralelas ao
tráfico - que fica terminantemente proibido de governar a região. O
poder paralelo das milícias inclui o controle do transporte alternativo
(vans e moto-táxis), a distribuição ilegal de pontos de TV a cabo e, em
alguns casos, a cobrança de taxas de moradores e pequenos comerciantes.
Mas quem garante que os grupos também não assumem, de forma velada, os
negócios do tráfico? O curioso é que tais grupos são bastante
semelhantes às “milícias de bairro” que hoje atuam nas
áreas carentes da Venezuela do Tenente coronel Hugo Chávez – comandante
militar do Foro de São Paulo e hoje um revolucionário latino-americano
que, em 17 de maio, celebrou, com a nobreza econômica européia, o
Tratado dos Povos das Américas com Londres. Mas tudo isso deve ser mera
coincidência...
O que os serviços de inteligência das Forças
Armadas deveriam saber já é de conhecimento dos serviços de inteligência
norte-americanos que monitoram o desenvolvimento do terrorismo nos
grandes centros urbanos brasileiros. No meio de tais milícias estão
profissionais internacionais do terrorismo, membros vindos de grupos
como as FARC colombianas, o IRA irlandês e o ETA espanhol. Meses atrás, o
editor do Alerta Total foi chamado (por uma minoria de
ignorantes e céticos) de “mentiroso” e “maluco” por ter revelado o teor
de um relatório reservado da Direção Nacional de Inteligência dos EUA, a
alguns senadores brasileiros, advertindo sobre o risco de “ações de
terror e guerrilha urbana”. Agora, somos obrigados a interromper nossos
sete dias de férias no hospício para lembrar que a previsão macabra se
concretizou. E, o pior de tudo, é que ainda fiquei sem meu nariz de
Pinóquio que estava prontinho para o carnaval. Vida que segue...
O
mais curioso de tudo que acontece agora é que as forças de segurança do
Rio foram alertadas, há dois meses, pela Secretaria de Administração
Penitenciária, de que ocorreriam ataques na cidade. A PM recebeu, ainda,
informações mais detalhadas, no dia 26 passado, inclusive sobre a data
precisa dos atentados. Ninguém fez nada. Agora, tudo é guerra verbal
inútil. A Secretaria de (In)Segurança atribui os ataques à busca de
regalias pelos bandidos na mudança de governo. A da Administração
Penitenciária, que tem documentos para mostrar, defende a tese de que as
ações foram cometidas por duas facções criminosas que se uniram para
combater as milícias, formadas por policiais da ativa e da reserva, em
favelas antes dominadas pelo tráfico.
Os criminosos até deixaram
no local de um dos atentados um bilhete acusando a governadora Rosinha
Garotinho de compactuar com as milícias (milíssias, no criminoso
português dos bandidos). Embora não saibam escrever direito, os
marginais devem saber o que estão denunciando. Ou não sabem? Eis a
questão. O fato é que os ataques sincronizados de “facções criminosas” (a serviço de quem?)
causaram a morte de pelo menos 11 pessoas. A reação policial matou sete
supostos traficantes. Foram 18 assassinatos que trouxeram pânico ao Rio
de Janeiro, às vésperas do Réveillon. Infelizmente, nesta história, não
conta o número exato de vítimas. Mas a qualidade criminosa da ação –
preparatória de futuros atos de terror com finalidades políticas.
No
meio de todo o caos, a declaração mais caricata de todo o episódio de
violência e terror foi emitida ontem pelo Comandante da Polícia Militar
do Rio, coronel Hudson de Aguiar. Ao recusar um possível auxílio da
Força Nacional de Segurança, indo contra a proposta do governador eleito
Sérgio Cabral Filho (PMDB), o coronel Hudson comprovou que tal “força” é
uma farsa. Disse ele para quem quisesse ouvir: "A Força Nacional foi
treinada pela Polícia Militar do Rio, e o aluno não pode trazer nada ao
instrutor. Se eles vierem para cá será para morrer e voltar no caixão".
Resumo
da ópera de malandros: Se as Forças Armadas, de verdade, não agirem,
como preceitua o artigo 142 da Constituição ainda em vigor, o quadro de
terrorismo ficará inalterado. E o ano novo só será feliz para os membros
do Governo do Crime Organizado.
Jorge
Serrão é jornalista, radialista e publicitário, especialista em
Administração Pública e Assuntos Estratégicos. Editor-chefe do blog e
podcast Alerta Total (http://alertatotal.blogspot.com)
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