Certa
vez, durante um desses debates políticos que surgem numa roda de
amigos, o mais metido a revolucionário da turma, devidamente trajado com
sua camisa do Che e suas sandálias de couro, perguntou-me quando
exatamente eu me tornei um “maldito reaça”.
Eis aí a diferença essencial entre nós – que eles chamam de “burguesia”, “reacionário”, “porcos direitistas”, etc. – e eles, os progressistas: abraçamos a democracia e a liberdade como valores básicos, perenes e inegociáveis.
Mas
eis que depois, refletindo, descobri quando exatamente me tornei um
reaça: foi no momento em que compreendi que Alexander Soljenitsin não é
igual a Marcola; que Wladmir Herzog não é igual a Fernandinho Beira-Mar;
e que Nelson Mandela não é igual a Elias Maluco.
Em
outras palavras, diferentemente da safra atual de progressistas
brasileiros (com raras e louváveis exceções), este reaça aqui sabe bem a
diferença entre um preso político e um mero delinquente. Meu mundo
ideal, dizem os humanistas da esquerda, é o do consumismo e da
exploração.
Eu
digo que é o dos antibióticos, da água encanada, da escrita e da
literatura. O deles é o da construção do “novo homem” e do “outro mundo
possível”, sem dar importância a coisas pequeno-burguesas como a
liberdade de imprensa, a democracia representativa ou mesmo o sabonete
neutro e o desodorante…
Uma
outra característica que me torna indiscutivelmente um reaça é o fato
de ter apenas uma moral. Sim, nós, os reaças, somos aborrecidamente
previsíveis: temos sempre um único norte moral, que não enverga de
acordo com os ventos de ocasião.
“Eles”,
os progressistas, são diferentes: têm várias morais! Por isso
conseguem, sem nenhum assombro, passar de ferrenhos críticos de Sarney,
Collor e Maluf, a aliados fraternos destes.
Para
mim, que sou um tanto mais ortodoxo, não é possível conviver com
bandidos de estimação. Deixo todos eles para a esquerda, que já tem know
how quando o assunto é defender a escória do mundo.
Descobri
que já era um reaça incurável quando percebi que, à luz dos meus
valores, Yoani Sanchez é apenas uma moça querendo o direito de divergir
de mais longeva ditadura do planeta, lutando contra a opressão imposta
pelos irmãos Castro.
E
ao meu crime soma-se a agravante de achar que não haveria nada demais,
caso ela fosse mesmo financiada pelo governo americano (risos), afinal
eu também defendo o livre-comércio.
Eis aí a diferença essencial entre nós – que eles chamam de “burguesia”, “reacionário”, “porcos direitistas”, etc. – e eles, os progressistas: abraçamos a democracia e a liberdade como valores básicos, perenes e inegociáveis.
Não consideramos as instituições democráticas meras invenções da classe
dominante. Sabemos, ao contrário, que são criações da sociedade
civilizada, aquela que tem por obrigação conter os bárbaros
revolucionários.
Ser
reaça não significa hastear bandeiras americanas na frente das casas,
ou criticar sempre o Brasil. Essas são só algumas das lendas que contam a
nosso respeito. Ser reaça é apenas compreender que as garantias e
liberdades do indivíduo estão acima de qualquer distopia coletivista
pregada por uma manada acéfala.
É,
enfim, entender que “não haveria totalitarismo, não fossem as massas e
suas rebeliões”, como aprendi com Ortega y Gasset, que nove entre dez
esquerdistas brasileiros acreditam ser uma dupla sertaneja.
São
valores morais, vocês hão de convir, absolutamente normais e – por que
não? – lógicos. Por que deveria me sentir mal em os defender
abertamente?! Só porque o consenso politicamente correto passa a me
chamar de reaça? Que nada! Defender as liberdades individuais, sobre as
quais se erigiu a civilização ocidental, é libertador! Não gosta de ser
chamado de reaça?! Deixe disso! “O que é um nome? Aquilo que chamamos de
rosa, caso tivesse outro nome, guardaria o mesmo perfume.”, diria
Shakespeare.
Há milhares de pessoas
espalhadas por todo o mundo, cientes de que os gulags são uma mancha na
história humana; pessoas conscientes de que Fidel Castro e Che Guevara
não passam de sociopatas; homens e mulheres como eu e você, leitor
amigo, certos de que não se deve tolerar o apedrejamento e a mutilação
de mulheres no Irã, em nome da “autodeterminação dos povos”. Enfim, há
indivíduos em toda parte exercendo seu sagrado direito de defender os
valores da liberdade e da democracia. Os haters dirão que somos reaças
por agir assim. Eu digo que somos livres!
23 de abril de 2013
reacionaria.org
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